quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

HISTÓRIA DA ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL alinhamentos, compromisso ético e parâmetros universais - RUBENS GODOY SAMPAIO


HISTÓRIA DA ÉTICA E
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

alinhamentos, compromisso ético e parâmetros universais

Categoria: Pós-graduação


RESUMO

Este trabalho situa o movimento da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) no interior de um contexto histórico e conceitual bastante amplo, a saber, o contexto da História da Ética enquanto saber específico, cujo objeto de estudo é o ETHOS compreendido como  comportamento humano e abrigo dos valores das comunidades que se organizam a partir de certos referenciais axiológicos. Na esteira deste esforço de situar a RSE no contexto da Ética o primeiro passo é a apresentação dos preliminares semânticos e etimológicos que estão na origem das palavras ETHOS e ÉTICA. Na seqüência este trabalho apresenta os sentidos das palavras ÉTICA e MORAL para em seguida fazer um breve histórico da história da ética cujo evento histórico final e de maior pujança é exatamente este evento da RSE. Ao discutir as questões relativas à Ética e  o Consenso o trabalho apresenta a relevância do alinhamento dirigido pela ONU e pelo Global Compact cuja repercussão nacional é refletida e difundida (de forma muito bem alinhada) através dos Indicadores do Instituto Ethos e da Campanha Nacional pela Cidadania e Solidariedade através no leitmotiv NÓS PODEMOS: 8 jeitos de mudar o mundo. A relevância deste alinhamento vertical e horizontal é aprofundada na discussão sobre Ética e Globalização e encontra seu termo no momento final em que a RSE é apresentada como o zênite de uma história de preocupações éticas que tem nada mais nada menos do que 2600 anos.

ÍNDICE

INTRODUÇÃO

A história da ética como ciência do Ethos começou a exatamente 2600 anos atrás com o início da reflexão filosófica. O primeiro surto de reflexão ética se deu com a grande tríade ateniense, Sócrates, Platão e Aristóteles. Desde então toda a reflexão ética teve como locus de produção e crescimento os espaços  da reflexão filosófica. Até muito pouco tempo atrás, falar sobre ética era uma prerrogativa acadêmica dos filósofos que freqüentam o ambiente universitário.

No Brasil, mais especificamente, houve um surto de reflexão que alcançou uma certa ressonância sobretudo por ocasião do impeachement do Presidente Fernando Collor de Mello. Neste momento vários círculos começaram a falar sobre Ética na Política. Todavia, tratou-se de um fenômeno conjuntural de natureza meteórica.

Hoje assiste-se a um evento histórico absolutamente sem igual na história de toda a ética enquanto disciplina filosófica que nasceu no berço da cultura ocidental e cresceu dentro dos limitados círculos filosóficos da  Academia, dos Mosteiros e das Universidades. Jamais, em momento algum viu-se um tamanho esforço para tornar princípios éticos parâmetros eficazes de ação para tanta gente e para tantas instâncias diferentes. Princípios cujas adesões institucionais e organizacionais têm conseguido promover resultados que trazem algum tipo de bem-estar e melhoria para a vida da coletividade. Jamais se viu algo parecido na história da ética e do ocidente. Nem mesmo todo o trabalho caritativo de assistência social motivado pela religião consegue alcançar as conquistas de um posicionamento maduro de uma grande corporação que tem consciência de seu papel e de sua responsabilidade sociais.

Neste trabalho, pretende-se percorrer de forma sintética as linhas gerais da história da ética para mostrar as raízes conceptuais mais profundas de todo este esforço intelectual de pensar o futuro do planeta a partir das matrizes do desenvolvimento sustentável e da responsabilidade social. Em outras palavras, quer-se demonstrar as raízes éticas deste  esforço descomunal que tem buscado dar efetividade a práticas de sustentabilidade  e de responsabilidade social.

O discurso de envergadura planetária a respeito da necessidade fundante de uma atitude responsável e sustentável está ligado a toda uma tradição cultural e conceptual que não surgiu ex abrupto, mas que se constitui como um dos frutos maduros de dois milênios de um ingente labor intelectual orientado para responder à pergunta colocada por Sócrates no século V a.C. : Como devemos viver? Ou como devemos agir?

Na tentativa de responder a estas perguntas, os mais eminentes filósofos da história do pensamento ocidental realizaram um esforço que se confundiu com as suas próprias vidas. O esforço de responder a esta pergunta orientou a vida de grandes personalidades éticas da nossa história. E o fundador da ética, Sócrates, na tentativa de ensinar aos seus co-cidadãos o que ele julgava ser o certo e o melhor para a cidade, não vacilou e não duvidou que o mais certo de tudo seria entregar sua própria vida como aval da causa à qual ele abraçara: uma cidade justa, orientada pelo bem comum e pela consciência ética dos cidadãos. Sócrates deu sua vida pela cidade, sobretudo porque ele conseguiu perceber a importância da cidade para si mesmo. Sócrates sabia que a cidade tinha feito por ele mais do que qualquer um podia fazer pela cidade. Portanto, não se lhe colocava como alternativa  qualquer conduta que diminuísse o valor da cidade diante de qualquer outra situação. Com isto ele mostrou aquilo que alguns anos à frente o próprio Aristóteles afirmaria em sua Ética a Nicômaco: a cidade é anterior ao cidadão, o bem comum deve preceder as vontades individuais.

Não há começo mais nobre, nem menos trágico, do que este. A certidão de nascimento da Ciência do Ethos, a Ética, foi assinada com o sangue de seu fundador, o cidadão mais nobre, da Atenas mais pujante: Sócrates. Desde então há um caminho de idas e vindas no campo da reflexão filosófica que aponta exatamente para tudo que se assiste no mundo todo e mais especificamente no mundo empresarial.

Desta forma, o escopo deste texto desdobra-se numa tarefa de natureza reflexiva e filosófica que abordará o tema da responsabilidade social como o tema mais atual e culminante de toda a história da reflexão ética, cujos epígonos foram nada mais nada menos que Sócrates, Platão, Aristóteles, Agostinho, Tomás de Aquino, Descartes, Spinoza, Kant, Hegel, Marx, Bentam, Apel, MacIntire, Morin e outros tantos que se esforçaram e ainda se esforçam por tentar ensinar (socraticamente) ao homem e aos seus interlocutores como se deve viver ou como se deve agir. No fim da História da Ética está o instante em que vivemos e que temos o privilégio de testemunhar através deste trabalho hercúleo de difusão de princípios, indicadores, objetivos, metas que servem, como uma bússola, para orientar a ação humana sobre a Terra de forma a garantir a subsistência da própria comunidade humana no seio de um ambiente habitável e saudável social e economicamente.

Neste sentido, a idéia central deste texto é suprassumir no plano da reflexão filosófica (pois a reflexão ética é uma reflexão eminentemente e historicamente de natureza filosófica) todo este movimento de responsabilidade social que se difunde no seio das organizações e corporações industriais, comerciais e financeiras, como o ápice de um esforço ingente de difusão de princípios éticos, que felizmente encontrou adesão e aderência no horizonte corporativo, vem a ser, por aqueles que são os verdadeiros responsáveis pela entropia[1] que pode abalar o delicado equilíbrio da película viva que cobre esta Esfera Azul, chamada Terra, Nossa Casa.

1. Preliminares Semânticos

No início deste trabalho julga-se necessário realizar uma apresentação do contorno semântico das palavras ETHOS e ÉTICA em função da polissemia destas palavras e sobretudo em função da deterioração semântica da palavra ÉTICA. Afinal é possível ouvir por aí expressões tais como “a ética dos bandidos”, “a ética das corporações e a moral dos colaboradores são incompatíveis entre si”, ou ainda “a ética é comunitária e a moral é individual”.

Portanto para orientar a continuidade deste trabalho será feito um trabalho cuidadoso de apresentação dos preliminares semânticos da palavra ETHOS, da qual por sua vez deriva a palavra ÉTICA como ciência do ETHOS[2], assim como a palavra FÍSICA é ciência da PHYSIS[3].

A palavra ETHOS é de origem grega. E sua etimologia é marcada por uma riqueza semântica determinada pelas duas formas distintas de se escrever a palavra ETHOS na língua grega do tempo de Platão e Aristóteles e que ainda existem nos dicionários gregos atuais.

Quem disseminou a palavra ÉTICA  foi Aristóteles (ethiké - hjtikhv[4]). Ethike é um adjetivo que qualifica um tipo específico de saber, o saber do Ethos (genitivo objetivo), o saber que se tem sobre o Ethos. Com o passar do tempo o adjetivo foi substantivado e passou a designar a Ciência do Ethos.  Ethiké, portanto, deriva da palavra Ethos que em grego possui duas grafias distintas. A palavra Ethos é uma transliteração de dois vocábulos gregos homófonos, mas não homógrafos.

A palavra grega iniciada com epsilon (e)[5] “designa o conjunto de costumes normativos da vida de um grupo social” [6].

A palavra grega iniciada com eta (h) designa a morada ou o abrigo do animal, ou ainda “refere-se à constância do comportamento do indivíduo cuja vida é regida pelo ethos-costume”[7]. Significa o “comportamento que resulta de um constante repetir-se dos mesmos atos”[8]

No mundo natural, ou no mundo da physis - fuvsi", os eventos ocorrem segundo uma necessidade natural o que implica uma repetição de eventos e uma regularidade  que ocorrem sempre[9] - aeí em grego (aei): uma árvore frutífera sempre dá o mesmo fruto, os animais se reproduzem e sempre têm filhotes da mesma espécie. A Natureza apresenta ao homem uma regularidade ‘maiúscula’ ou ‘forte’ que torna possível a vida nas suas condições mínimas de subsistência. Porque existe esta constância ‘maiúscula’ na natureza, o homem tem segurança de que pode comer este alimento, de que pode beber este ou aquele líquido. Ele sabe que se plantar esta ou aquela semente, num determinado prazo ele poderá colher seus frutos. Sem esta ordem da natureza a vida humana seria impossível e não haveria conhecimento algum, pois todo conhecimento é conhecimento de uma ordem ou de uma regularidade.
O homem, enquanto parte da natureza, também está determinado por esta ordem natural das coisas: os filhotes humanos são sempre humanos. Todos os seres humanos têm a mesma compleição física, todos são bípedes e falantes. Não há comunidade humana que não seja bípede e falante. Todavia, no mundo humano há certos eventos que se destacam da necessidade natural  e infringem esta regularidade da natureza: nem todos os humanos casam, nem todos têm filhos, nem todos são honestos, nem todos votam nos mesmos políticos, nem todos têm o mesmo padrão estético etc. Tais eventos não ocorrem sempre mas freqüentemente ou quase sempre (pollavkh" - pollákis)[10]. As ações humanas têm uma regularidade, têm uma constância e por isso elas podem ser estudadas. Mas esta regularidade não é tão dura ou tão forte quanto aquela do mundo natural. Trata-se de uma regularidade ‘minúscula’ ou ‘fraca’, que torna a vida social extremamente complexa. A pergunta que pode ser feita é a seguinte: se todos os filhotes de homem e mulher, são filhotes com as mesmas características físicas, psíquicas e se desenvolvem mais ou menos da mesma forma (9 meses de gestação; 7 meses: fase de quadrupedia; 12 meses: fase de bipedia; 18-24 meses: desenvolvimento da fala...), por que todos não agem da mesma forma? Por que uns são honestos e outros desonestos? Por que uns são violentos e outros tão fleugmáticos? Por que a ordem da vida comunitária não segue a mesma rigidez das estruturas físicas e psíquicas do ser humano? A resposta é a seguinte: o homem é livre! Na vida humana há um gap, há um espaço para a autodeterminação, para a liberdade. Enfim, a palavra Ethos (com epsilon) refere-se a esta regularidade (minúscula) da vida humana na sua dimensão social e comunitária, que, todavia não  é uma regularidade necessária tal como a ordem e a regularidade própria dos eventos naturais. Trata-se de uma constância no agir que se contrapõe ao impulso ou ao instinto.
“Essa constância do ethos como disposição permanente é a manifestação e como que o vinco profundo do ethos como costume, seu fortalecimento e o relevo dado às suas peculiaridades. O modo de agir do indivíduo, expressão da sua personalidade ética, deverá induzir, finalmente, a articulação entre o ethos como caráter e o ethos como hábito”[11].

É possível dizer que, num primeiro sentido, o Ethos designa o processo genético do hábito ou da disposição habitual para agir de uma certa maneira, de forma a atingir o hábito como possessão estável.

A segunda acepção da palavra Ethos[12] tem sua grafia marcada pela diferença da inicial eta - h[qo" - e designa a morada do homem e do animal em geral, o abrigo do animal. Em última análise significa dizer que o homem mora dentro de seu hábito, dentro de seus costumes. Daí a grafia comum de hábito e habitat. O hábito e os costumes (o Ethos) são a morada do homem. Moramos,  residimos no abrigo de nossos hábitos. Também é possível dizer que o ser humano veste seu hábito (não obstante, o “hábito não faça o monge”).
“É, pois, a realidade histórico-social dos costumes e a presença no comportamento dos indivíduos que é designada pelas duas grafias do termo  ethos. Nesse seu uso, que irá prevalecer na linguagem filosófica,  ethos (eta) é a transposição metafórica da significação original com que o vocábulo é empregado na língua grega usual e que denota a morada, covil ou abrigo dos animais, donde o termo moderno de  Etologia ou estudo do comportamento animal”[13].

Esta morada não é dada ao homem, mas construída. O ser humano cria seus hábitos e costumes e vive dentro deles, pois tal situação lhe dá segurança e estabilidade, para que não seja necessário reinventar-se a cada amanhecer. Com isto há mais tempo para criar, inventar e se realizar de várias outras formas possíveis.
“O homem habita sobre a terra acolhendo-se ao recesso seguro do ethos. Este sentido de um lugar de estada permanente e habitual, de um abrigo protetor, constitui a raiz semântica que dá origem à significação do ethos como costume, esquema praxeológico durável, estilo de vida e ação. A metáfora da morada e do abrigo indica justamente que, a partir do ethos, o espaço do mundo torna-se habitável para o homem. O domínio da physis (natureza) ou o reino da necessidade é rompido pela abertura do espaço humano do ethos no qual irão inscrever-se os costumes, os hábitos, as normas e os interditos , os valores e as ações”[14].

Este espaço do ethos nunca está construído de forma definitiva e acabada. E tal inacabamento essencial “é o signo de uma presença a um tempo próxima e infinitamente distante, e que Platão designou como a presença exigente do Bem, que está além de todo ser ou para além do que se mostra acabado e completo”[15].

Na confluência dos significados destas duas palavras e[qo" e h[qo", costume e morada, respectivamente, se alcança a  riqueza semântica da palavra Ethos da qual deriva a palavra ÉTICA, compreendida como substantivo que designa um tipo de ciência, ou um tipo de conhecimento cujo objeto é o próprio Ethos. A Ética é a ciência do Ethos, compreendido como “processo genético do hábito”, ou ainda como disposição habitual para agir de uma maneira condizente com os princípios que tornam a vida humana (em sociedade) factível de ser realizada na direção de um horizonte que lhe permita a possibilidade de ser vivida em plenitude, ao lado de outros sujeitos que também compartilham da mesma pretensão de se realizarem da forma mais plena possível.

Partindo destas considerações etimológicas de alcance ético-filosófico é possível vislumbrar de forma muito nítida o alinhamento conceptual existente entre o significado da palavra Ethos, a importância de uma ciência que estude certos invariantes da conduta humana e toda a produção intelectual e todo o resultado prático do movimento corporativo que incorpora os princípios e os indicadores da responsabilidade social empresarial (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, Compact Global, Campanha Nacional pela Cidadania e Solidariedade - Oito Jeitos de Mudar o Mundo -, Indicadores do Instituto Ethos).

A assunção de princípios ou indicadores que desenhem o perfil do comportamento de uma corporação diante do seu público interno, diante da comunidade em que ela se encontra inserida, diante do meio ambiente... faz com que esta ou aquela corporação esteja construindo o seu ETHOS. A adesão a valores irrenunciáveis faz com que a empresa edifique o seu abrigo, a sua morada que lhe protegerá das investidas das intempéries da natureza ao mesmo tempo que lhe dará segurança a respeito das opções éticas tomadas e assumidas por toda a organização.

Do ponto de vista semântico há uma transposição metafórica que transcreve a significação stricto sensu da palavra Ethos para o mundo humano dos costumes. Esta transposição do gênio grego revela uma intuição profunda a respeito da natureza e das condições do agir humano, ao qual “ficam confiadas a edificação e a preservação de nossa verdadeira residência no mundo como seres inteligentes e livres: a morada do ethos cuja destruição significaria o fim de todo sentido para a vida propriamente humana”.[16]

2. Ética e Moral

Nesta breve seção se deseja apenas apresentar a sinonímia existente entre as palavras Ética e Moral, para que se evitem certos desencontros e confusões conceptuais que tendem a diferenciar um conceito de outro gerando mais equívocos do que soluções.

Em última análise as diferenças entre estas duas palavras se devem unicamente às suas raízes e seus troncos lingüísticos. A palavra ÉTICA tem sua raiz no grego. A palavra MORAL tem sua raiz no latim.

MORAL é tradução de moralis, cuja raiz é o substantivo mos (mores) cujo correspondente grego é ethos. Mos (mores), por sua vez,  é a tradução latina da palavra grega ethos. A palavra moralis tornou-se a tradução usual da palavra grega ethiké. Portanto, a palavra MORAL, em português,  não é outra coisa senão a tradução de MORALIS (latim), que por sua vez é a tradução de ETHIKÉ (grego). Do ponto de vista etimológico e semântico MORAL e ÉTICA são palavras sinônimas seja como substantivo, seja como adjetivo.

A evolução semântica destas palavras não indicou nenhuma diferença significativa entre as duas expressões. Ambas se referem ao mesmo objeto: o “costume socialmente considerado ou o hábito do indivíduo de agir segundo o costume estabelecido e legitimado socialmente”[17].
Todavia, muito recentemente surgiu uma tendência em atribuir significados diferentes a estas palavras. A Ética passou a referir-se  ao estudo do agir humano considerado na sua perspectiva social, apontando para a realidade histórica e social dos costumes. A Moral começou a designar o estudo do agir humano considerado a partir da perspectiva do indivíduo, privilegiando a subjetividade do agir. Não obstante esta recente diferenciação, este texto utilizará a palavra Ética e a palavra Moral como expressões sinônimas que designam um “saber elaborado segundo regras ou segundo uma lógica peculiar”; um saber que se constitui como Ciência do Ethos.

Portanto, o ponto fulcral do que se coloca neste trabalho e neste exato instante é o seguinte: não obstante  a ausência de uma necessidade dura e inexorável no agir humano é possível detectar a presença de certos invariantes e de certas constantes  que indicam uma certa regularidade no agir humano considerado socialmente (eticamente) ou individualmente (moralmente) e que portanto permite a constituição de uma Ciência do Ethos. Em outras palavras, o agir humano possui uma inteligibilidade intrínseca que pode ser alcançada com o instrumento conceptual adequado. E que em decorrência de sua cognoscibilidade permite ao próprio homem interferir neste mesmo agir a partir da previsibilidade intrínseca a todo evento marcado ontologicamente por uma ordem e por um grau qualquer de constância e estabilidade. É possível compreender o agir humano seja na sua dimensão individual (estrutura subjetiva do agir ético e da vida ética) seja na sua dimensão social (estrutura intersubjetiva do agir ético e da vida ética). E se é possível compreendê-lo é também possível interferir nas ações humanas de forma previsível e racional.

3. Origens históricas da Ética

A Ética nasceu no seio de um movimento intelectual agitado pelas intempéries da crise que subjugara a cidade mais pujante de todas as cidades-estados da Grécia Antiga: a cidade de Atenas.

A Ética e sua importância para uma determinada  civilização ou sociedade sempre vêm à tona em momentos de crise de valores, de desorientação e de perplexidade dos homens que se encontram no meio do turbilhão provocado pela crise mesma. E foi neste contexto que ela nasceu: no coração de uma crise. A Ética, enquanto ciência do ethos, surge na Grécia Antiga, justamente num momento de crise extrema, como se verá logo adiante.

A Ética, enquanto ciência do ethos surgiu com Sócrates, Platão e Aristóteles, num entrecruzamento histórico muito bem definido e muito bem localizado no tempo e no espaço: num momento de crise da sociedade grega quando, ao mesmo tempo, ocorre o nascimento da filosofia através da passagem do discurso mítico para o discurso do lógos (lovgo").

A Filosofia não nasceu em Atenas. Ela surgiu nas colônias de Mileto e mais especificamente com o gênio de Tales de Mileto, em Mileto. Muito cedo a Filosofia alcança a capital através de Anaxágoras e finalmente através de Sócrates. A história denuncia que as alturas especulativas atingidas pelos intelectuais de uma época são diretamente proporcionais à magnitude da crise em que sua sociedade se encontra. A Atenas de Sócrates foi a cidade de Temístocles e Péricles, os maiores generais daquela época que levaram aquela cidade-Estado ao zênite cultural, econômico, social, militar e político. Todavia, alcançar a maior altura possível de uma curva de desenvolvimento (seja ele qual for) significa que o momento seguinte só pode ser, na melhor das hipóteses de estabilidade, ou ainda que o momento ulterior será de um declínio inexorável. Infelizmente vários fatores históricos, sociais e políticos conduziram a cidade de Atenas a um declínio vertiginoso testemunhado por Sócrates, Platão e Aristóteles. E estes três gigantes  com o intuito de acudir Atenas neste momento de declínio conseguiram indicar e tematizar os tópicos mais relevantes de toda a história da Ética e da Política, sem os quais hoje não se faria a ciência da Ética com a qualidade e com a sofisticação com que é feita. Contudo,  todo o esforço intelectual realizado nestes momentos de crise só é alcançado por uma minoria de leitores e intelectuais que têm acesso a este tipo de conhecimento e que fazem parte do círculo de profissionais que debatem questões desta natureza.

Não obstante Sócrates ensinasse nas ruas e as escolas de Platão e Aristóteles fossem escolas abertas, o acesso a este tipo de saber ainda era restrito a uma elite que sabia ler e que era constituída apenas por cidadãos natos. As mulheres não tinham cidadania, e os escravos, as crianças e os metecos, muito menos.
Com o correr dos séculos uma característica da Filosofia e da Ética, enquanto conhecimento filosófico, foi sem dúvida alguma o seu confinamento aos muros das escolas filosóficas, dos mosteiros medievais, das catedrais e universidades modernas e das universidades contemporâneas.
Todavia o que se vê hoje é a transformação de uma série de ardentes questões éticas em indicadores que servem de norte para orientar a ação das empresas, de seus stakehoders e de todas as organizações e indivíduos entrelaçados na cadeia produtiva de uma empresa qualquer. Todo o  saber que estava confinado nas torres de cristais das universidades encontrou uma forma de escoamento que deu à reflexão ética uma capilaridade e uma efetividade jamais testemunhadas por qualquer filósofo que já tenha existido. E todo este escoamento e esta capilaridade alcançada pela reflexão ética tem sido realizada através  da difusão do conceito de Responsabilidade Social Empresarial[18]. Nos fundamentos de toda esta reflexão há pressupostos epistemológicos, filosóficos e éticos que não estão explícitos (mesmo porque não precisam ser explicitados a todo momento), mas que permitem a realização de uma proposta sólida que por sua vez possibilite a construção de um Ethos universal que garanta a possibilidade da permanência do homem no interior da Biosfera.

O retorno aos gregos[19]  faz perceber que a crise ateniense foi decorrente do confronto da cultura grega com outras civilizações, outros costumes, outras religiões. Tal encontro provocou um relativismo de todo o horizonte simbólico grego, e conseqüentemente uma crítica dos seus próprios valores. O contato com povos diferentes provocou uma reflexão (retorno) sobre a própria situação e originou uma crise de valores que encontrou na expressão de Protágoras a síntese mais clara e radical daquela crise de valores: "o homem é medida de todas as coisas,  das que são para que sejam e das que não são para que não sejam", o que em última análise significa que tudo é verdadeiro. A proposição de que tudo é verdadeiro, própria do âmbito gnoseológico, encontra no espaço do agir humano, no âmbito praxeológico, sua melhor tradução na posição de  Ivan, o Karamazóv intelectual do romance de Dostoiévsk: Tudo é permitido.
Por outro lado, neste mesmo momento histórico de crise política, há a eclosão de um movimento de reflexão – a filosofia - que irá fazer a passagem do ‘discurso mítico sobre a realidade’  para o discurso racional, lógico, ou mais propriamente filosófico da explicação do real, através de proposições que, em 1º lugar, prescindem do recurso a imagens e fabulações próprias do discurso mítico, em 2º lugar que buscam a origem de todas as coisas e, em 3º lugar, que pressupõem a unidade de tudo o que existe. Daí a profundidade e originalidade da primeira proposição filosófica posta por Tales de Mileto: Tudo é água. A filosofia é inaugurada como um discurso pretensioso e oni-abrangente que busca a compreensão da natureza como um todo, na sua amplitude e envergadura máximas.

Todavia a chegada de Sócrates no cenário do pensamento grego provoca na filosofia uma inflexão antropológica que dá origem a um novo tipo de discurso filosófico focado não mais nas questões da natureza, mas focado nas questões éticas e políticas do mundo humano. Tal inflexão decorre da percepção socrática do abandono dos valores tradicionais da sociedade ateniense. O filósofo está espantado com a corrosão e a deterioração dos valores que organizavam e dirigiam a vida dos gregos. Esta estupefação provoca a comunidade pensante a se utilizar do instrumento da razão (a recém-nascida filosofia) para estudar o problema da virtude e da justiça na cidade, ocorrendo pois o nascimento da Ética, como  o discurso racional que se debruça sobre o comportamento humano para estudá-lo e mostrar ao homem quais são as virtudes que devem organizar e reger a sua vida em direção ao Bem Absoluto.

A aula inaugural da Ética como discurso sobre o Ethos é o chamado intelectualismo socrático. Para Sócrates o mais fundamental era que os homens  soubessem o que eram as virtudes (a justiça, a coragem, a prudência, a temperança...). Pois conhecendo-as, o homem se tornaria virtuoso. Para Sócrates a condição necessária e suficiente para o homem tornar-se bom era conhecer o bem. O jovem que soubesse o que era a coragem não tinha como não se tornar corajoso. O intelectualismo de Sócrates orienta a sua ação na cidade. E no seu encontro com os jovens, ele busca ensiná-los a conhecer as virtudes para que sejam bons cidadãos e para que a cidade seja um lugar onde reine a justiça e a eqüidade.

Platão, discípulo de Sócrates, propõe seu  ideal do Justo na sua República (Politeiva). Mas é com Aristóteles, aluno de Platão, e no seu texto Ética a Nicômaco, que a Ética encontra a sua forma mais orgânica e sistemática e surge e se estabelece como ciência do ethos.

Sócrates, Platão e Aristóteles têm pensamentos diferentes a respeito da natureza e da constituição do próprio saber ético. Todavia, os três eram unânimes em postular a referência necessária a uma instância transcendente na qual encontravam-se todos os fundamentos da consciência e da  ação humana: o BEM transcendente, o Absoluto como Deus. Foi esta característica que permitiu o casamento entre o cristianismo e a filosofia, pois ambos referiam-se a dimensões de natureza transcendente e absolutas.
Com o advento do Cristianismo e a apropriação que esta religião fez da Filosofia a reflexão Ética não saiu de sua rota. Os pensadores cristãos se mantiveram firme na posição de que todo valor e todo bem emana e se irradia do próprio Deus, fonte de existência de tudo que existe e fonte por excelência dos valores que devem orientar a vida de cada um ser humano[20].
No entanto, a Modernidade solapou os pressupostos ontológicos e metafísicos do pensamento clássico greco-cristão e deixou de assumir de forma ingênua a pressuposição de que o conhecimento de todo e qualquer bem depende de uma fonte externa ao homem e portanto heterônoma.
Gradualmente o eixo da reflexão ética acompanha toda a revolução copernicana da filosofia, no sentido de que os fundamentos da Ética deixam de estar centrados na figura do próprio Deus, para centrar- se na capacidade humana de conhecer e construir as estruturas do seu próprio conhecimento. Os modernos postularam que o homem não conhece as coisas tirando da realidade um véu que encobre seus segredos. O conhecimento humano é edificado sobre princípios epistemológicos e gnoseológicos postulados e (insistimos) não revelados.
O evento central deste momento histórico é a Revolução Científica que determinará de forma absoluta todo o roteiro da filosofia e das ciências a partir da publicação do livro De Revolutionibus de Nicolau Copérnico, em 1543.  Os filósofos da natureza (Kepler, Ticho Brahe, Galileu, Isaac Newton), os racionalistas (Descartes, Malebranche, Spinoza e Leibniz), os empiristas (Hobbes, Locke, Berkeley e Hume) e Kant desenharam um rumo diferente para toda a vida humana, desde os seus dias até os anos inaugurais deste novo milênio.
E o resultado da filosofia moderna foi a valorização do indivíduo e de sua autonomia ética que, por sua vez, rechaça, repudia e nega toda e qualquer referência a uma instância transcendente (Deus) como fonte de valor para a conduta humana.

A partir de então o homem tomou em suas mãos a bússola para orientar o seu caminho. Todavia o Norte que polariza a bússola foi negado e ignorado, pois deixamos de admitir a existência de um pólo (externo) que “norteasse” a nossa vida. E finalmente desmagnetizamos o ponteiro da bússola para que pudéssemos apontá-lo  para onde bem quiséssemos.

Nos dias de hoje, o maior desafio que se coloca aos intelectuais que produzem conhecimento na área da Ética repousa sobre o seguinte paradoxo: é a primeira vez que o homem pode dizer que ele se encontra no interior de uma sociedade global, ou de uma civilização universal que tende a uma certa homogeneização e ‘pasteurização’ cultural. Todavia esta é a primeira civilização destituída de padrões éticos universais que orientem a prática e a ação humanas. Este é o grande drama ético contemporâneo: uma civilização universal sem valores universais!

O mais espantoso é que, mutatis mutandis, desde seu nascimento, o desafio da Ética tem sido o mesmo: como apresentar ao ser humano a possibilidade de que ele pode conhecer valores universais que orientem sua prática e sua ação no mundo? Hoje este desafio atinge seu grau máximo de dificuldade, pois ao mesmo tempo que se assiste a configuração de um mundo global, as diferenças entre culturas apresentam seu relevo particular e não se sentem à vontade com a universalização de certos padrões ocidentais. Afinal tudo que possibilitou a chamada globalização foram postulados que nasceram e se desenvolveram no seio da civilização ocidental  e que permitiram a invenção da tecnologia tal como ela existe hoje. Mas há elementos culturais muito específicos que são refratários a certos aspectos da globalização.

4. Ética e Consenso

Como nossa bússola está desmagnetizada e ela não aponta mais para direção nenhuma (afinal nós passamos a execrar toda orientação previamente instituída, extrínseca à nossa subjetividade) restou-nos apenas duas alternativas: uma saída individual e uma saída social.

Por um lado a alternativa da saída individual é tomada pelo sujeito mesmo no foro mais íntimo de sua personalidade; o sujeito decide em que deve crer ou mesmo se deve não crer; ele decide qual é a sua postura diante da vida e ele mesmo, sozinho, na ‘sozinhedão’  mais profunda de sua consciência decide inclusive se quer crer ou não em Deus. Por outro lado há a alternativa da saída social que não pode ser imposta (a não ser que se esteja num regime totalitário) e se configura a partir da exigência do estabelecimento de um consenso alcançado pela discussão livre e democrática.

Partindo desta alternativa de caráter social, que está fundamentada na conquista do consenso através do exercício do discurso livre e lúcido, os atores internacionais se posicionam uns diante dos outros como pares que buscam o estabelecimento de um consenso em torno de interesses mútuos e recíprocos. Daí que desde muito recentemente o discurso orientado para o consenso e realizado através de sofisticadas técnicas de negociação tem sido o instrumento utilizado pela ONU e por vários agentes e atores internacionais que estão envolvidos nas discussões sobre as situações críticas de interesses conflituosos que buscam, em última análise, satisfazer interesses próprios.

Neste sentido, todo o trabalho da ONU tem sido orientado a partir deste princípio de busca de um consenso, pois a adesão a quaisquer princípios de ação no palno internacional, nos dias de hoje, não há como ser imposta e sim negociada e buscada através de um discurso orientado para a busca de consensos, de acordos e do ponto de vista formal, tratados, declarações etc. Neste sentido, a transparência das partes envolvidas é de caráter fundamental para a elaboração de consensos em todos os níveis possíveis. E foi justamente em torno do estabelecimento de princípios norteadores da nossa existência na Terra que a ONU realizou o maior de todos os encontros jamais feitos sobre  o planeta com vistas a estabelecer metas de ação que envolvessem o maior número de pessoas, organizações e nações do mundo inteiro.
“Em setembro de 2000, a ONU — Organização das Nações Unidas reuniu 147 chefes de Estado e de governo em Nova Iorque, na Cúpula do Milênio. Foi o maior encontro de dirigentes mundiais já realizado e teve como resultado a aprovação da Declaração do Milênio das Nações Unidas. Esse documento, referendado por todos os 189 países membros, reflete a crescente preocupação com a sustentabilidade do planeta e com os graves problemas que afetam a humanidade”[21].
Todo o esforço de reflexão da ONU é realizado por seus assessores 
ou por seus convidados (geralmente grandes experts em alguma área específica) que participam de grandes eventos promovidos pelos organismos da ONU e discutem sobre algum assunto de relevância planetária. O caso que interessa a este trabalho diz respeito a uma reflexão muito bem alinhada estruturalmente e conceptualmente inaugurada com a ONU e desdobrada por uma série de instituições de dimensões internacionais e nacionais.

É absolutamente admirável o alinhamento conceptual existente entre as Metas do Milênio, elaborados na Cúpula do Milênio em 2000, os princípios propostos pelo Pacto Global, a Campanha Nacional pela Solidariedade e Cidadania e os Indicadores de Responsabilidade Social do Instituto Ethos[22].

O que se vê, sobretudo a partir do trabalho do Instituto Ethos, é um trabalho de alinhavamento entre a Cúpula do Milênio, o Global Compact[23] e a Campanha Nacional pela Solidariedade e Cidadania. E o resultado deste labor é elaboração de um tecido axiológico de natureza inconsútil, que pode dar cobertura a uma diversidade quase infinita de situações vividas por corporações dos portes mais variados e por instituições acadêmicas, confessionais, laicas, sindicais, patronais, e muitos outros organismos que constituem a sociedade civil. Pois todos os princípios apresentados pelas várias instâncias[24] envolvidas com estas propostas  são coerentes entre si, seja do ponto de vista conceptual, seja do ponto vista praxeológico, no sentido de que são passíveis de serem realizados, produzindo, por sua vez, resultados efetivos, seja na empresa que busca conquistar vantagens competitivas, seja nas vidas das pessoas favorecidas pelas práticas empresariais responsáveis socialmente, afinal estes princípios estão orientados por metas muito precisas, que por sua vez estão apoiadas por indicadores confiáveis.

Vale considerar que todo este esforço tem fundamento numa visão política inspirada nos princípios democráticos que não são outra coisa senão uma maneira formal de se tomar decisões consensuais. O pensador italiano falecido recentemente, Norberto Bobbio refletiu argutamente sobre as questões constitutivas do regime democrático e apontou a existência de nove regras que funcionam como indicadores da solidez e da consistência das instituições democráticas de uma nação. É importante que ao considerá-las como elementos constitutivos e essenciais de uma democracia, Bobbio assinala que estas regras não determinam o conteúdo das decisões que devem ser tomadas. Estas regras são apenas os instrumentos necessários para decidir como as decisões devem ser tomadas, de forma a garantir ao mesmo tempo, os anseios de uma maioria sem que a minoria precise ser eliminada, garantindo ao mesmo tempo um mecanismo de rotatividade que dê às minorias a possibilidade de se tornar maioria.  Estas regras se configuram como regras de um jogo ou como procedimentos universais e formais sem conteúdo, de forma análoga aos chamados imperativos categóricos kantianos. São elas:
1.  O órgão político máximo, a quem é assinalada a função legislativa, deve ser composto de membros direta ou indiretamente eleitos pelo povo em eleições  de primeiro ou de segundo grau. 2. Junto do supremos órgão legislativo deverá  haver outras instituições com dirigentes eleitos, como  os órgãos da administração local ou o chefe de estado (tal como acontece nas repúblicas). 3. Todos os cidadãos que tenham atingido a maioridade, sem distinção de raça, de religião, de censo e possivelmente de sexo, devem ser eleitores. 4. Todos os eleitores devem ter voto igual.  5. Todos os eleitores devem ser livres em votar segundo a própria opinião formada o mais livremente possível, isto é, numa disputa livre de partidos políticos que lutam pela formação de uma representação nacional. 6. Devem ser livres também no sentido em que devem ser postos em condição de ter reais alternativas (o que exclui como democrática qualquer eleição de lista única). 7. Tanto para as eleições dos representantes como para as decisões do órgão político supremo vale o princípio da maioria numérica, se bem que podem ser estabelecidas várias formas de maioria segundo critérios de oportunidade não definidos de uma vez para sempre. 8. Nenhuma decisão tomada por maioria deve limitar os direitos da minoria, de um modo especial o direito de se tornar maioria, em paridade de condições. 9. O órgão do Governo deve gozar de confiança do Parlamento ou do chefe do executivo, por sua vez, eleito pelo povo”[25].

A elucidação e a indicação destas regras são significativas pois são elas os instrumentos mais eficazes de construção de consensos na esfera do Estado-nação. O que ainda fica por ser resolvido é o desafio de se estabelecer regras equivalentes que permitam a edificação de mecanismos democráticos que sejam efetivos e que tenham um alcance global, afinal o mundo hodierno é o mundo da globalização, no qual as relações sociais foram intensificadas de forma inédita na história da humanidade.

Para concluir esta sessão sobre a Ética e o Consenso  é necessário apenas realçar que todo empenho da ONU (através das Metas do Milênio e do Compact Global), do Instituto Ethos e dos responsáveis pela Campanha Nacional pela Solidariedade e Cidadania (Nós podemos: 8 jeitos de mudar o mundo) está muito bem alinhado com os princípios epistemológicos da chamada ética do discurso, ou ética do consenso que por sua vez também estão alinhadas de forma extremamente coerente com os princípios democráticos que regulam os valores ético-políticos da civilização ocidental.

Esta coerência epistemológica garante, ao esforço daqueles que se empenharem neste horizonte da RSE, uma prática consistente e alinhada que não se configurará como voluntarismo de um franco-atirador. Ao mesmo tempo que fornece uma estrutura que permite uma convergência de ações sobre alvos bem delimitados, permitindo uma concentração de esforços em detrimento de trabalhos pulverizados que por serem pulverizados e não convergentes perdem força e eficácia.

A grande vantagem do consenso democrático estabelecido em torno dos Objetivos do Milênio está na configuração de um compromisso ético que converge ações, recursos, inteligências e experiências que podem se entrelaçar e possibilitar parcerias que por sua vez fornecerão mais convergência e eficácia.

5. Ética e Globalização

O objetivo fundamental de todos os maiores pensadores da Ética não foi outra coisa senão buscar uma forma de universalização de princípios que pudessem ser alcançados e conhecidos de alguma forma pelos cidadãos seja através de um exercício racional alavancado pela filosofia, seja através de uma percepção religiosa possibilitada pela revelação de Deus.

Platão formulou seu mundo das idéias, cujo acesso se dava através da paidéia filosófica que permitiria, no termo deste processo pedagógico, a intuição da Idéia do Bem, que por sua vez iluminaria a mente do cidadão ou do filósofo-rei que deveriam participar da vida citadina ou governá-la, respectivamente.

Aristóteles formula sua teoria das formas de governo sem prescindir da idéia máxime do Bem, que por sua vez, também deveria servir de parâmetro para todos os cidadãos.

Agostinho e Tomás de Aquino, dois pensadores cristãos ancoram suas idéias de Bem na Divina Providência ou na Vontade Divina do Deus Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A Idade Moderna chega e elabora a crítica da anábasis (subida) grega e da katábasis (descida) cristã. O pensamento moderno provoca a chamada virada do sujeito e substitui o teocentrismo cristão, próprio da Idade Média pelo antropocentrismo moderno, próprio da era que se inicia com o Renascimento, com a Reforma, com as Grandes Navegações, com o incremento do comércio nas feiras européias etc...

A partir deste momento o esforço de universalização dos princípios éticos deve se sujeitar apenas à racionalidade humana: daí o caráter estritamente sóbrio e econômico da moral provisória cartesiana e o caráter geometrizante da ética spinoziana. O ápice deste momento moderno de universalização da ética através do exercício puro da razão vem com Kant, na sua Crítica da Razão Prática, quando o princípio universalizador do procedimento moral ou ético deve submeter-se ao chamado IMPERATIVO CATEGÓRICO: “age de tal forma que tua ação possa ser universalizada”. Não obstante a clareza aparente deste princípio, os pressupostos fundantes desta posição kantiana são de uma complexidade extrema.

Nesta seqüência o esforço hegeliano não se torna menos complexo, sobretudo porque seu método dialético não só exige uma compreensão do mundo circundante como também exige a capacidade de atingir um tipo de altitude especulativa própria dos profissionais da filosofia que a ela se dedicam com força quase exclusiva.

À medida que a história da ética avança no tempo sua complexidade conceptual vai ficando mais e mais nítida, sobretudo porque a exigência de universalização de princípios éticos vai complexificando-se na mesma  medida e na mesma proporção em que a sociedade mesma se torna cada vez mais complexa. Isto torna o saber ético privilégio daqueles que por algum motivo profissionalizaram-se na área da filosofia e conseqüentemente possuem o ferramental técnico da área filosófica.

Compreender os efeitos da globalização é uma tarefa hercúlea, pois até o momento as categorias constitutivas do conhecimento sociológico e histórico eram categorias que se organizavam em torno do conceito de Estado-nação. Já não é possível utilizar pensar o mundo em termos de estados-nações. Este talvez seja o maior problema dentre outras questões epistemológicas que poderiam ser levantadas diante do desafio de compreender a globalização. Este aspecto está sendo levantado apenas para indicar que a dificuldade presente nesta tarefa de compreensão do fenômeno da globalização. Dificuldade esta que será transposta para o campo da reflexão ética, quando se impuser o desafio intelectual da reflexão sobre os valores que deveriam organizar e orientar a vida dos habitantes de uma sociedade globalizada.

Não obstante a magnitude do desafio intelectual de pensar a ética para um mundo globalizado, o  que se mostra como um fato de extrema admiração e da mais ofuscante estupefação é que no momento presente, testemunha-se um tal grau de mobilização e adesão aos princípios da Responsabilidade Social Empresarial, absolutamente incomparável com qualquer movimento ético jamais visto na história da humanidade.

Por mais importante que seja o papel dos intelectuais e dos acadêmicos na vida sócio-política e econômica de um país, eles jamais conseguiram resultados tão práticos, visíveis e mensuráveis, tais como a prática social responsável realizada pelas corporações  tem conseguido. No Brasil, mais do que na França ou em muitos outros países da Europa os intelectuais sempre tiveram um papel fundamental na configuração política da nação. Todavia, até mesmo esta situação privilegiada do papel dos intelectuais brasileiros tem sido suplantada pela relevância da RSE das organizações. Em outros termos, este movimento de difusão dos ideais de RSE tem uma efetividade incomparável a qualquer fenômeno social que exija dos cidadãos uma conduta ética compatível com os valores em questão.

A Academia, a universidade e os espaços de reflexão filosófica, sociológica e jurídica e julgamos dizer que talvez nem mesmo os movimentos religiosos, jamais conseguiram provocar o mesmo efeito causado pelos princípios aos quais as empresas têm aderido, sobretudo porque tais resultados têm sido acompanhados e observados de forma estritamente profissional através dos mesmos instrumentos de avaliação de desempenho e de resultados  utilizados pelas próprias organizações.

Outro aspecto a ser considerado é a experiência da globalização propriamente dita. As grandes corporações vivem o fenômeno da globalização no coração mesmo de suas empresas. Na Academia a globalização é um tema entre outros milhares de temas. Na Corporação a globalização é o dia-a-dia do executivo e daqueles buscam atingir metas de uma organização de dimensões nacionais e muitas vezes planetárias. Portanto todos os canais existentes dentro da própria organização estão constituídos para facilitar e dar o escoamento necessário a tudo aquilo que diz respeito ao ideário da própria empresa, inclusive aos aspectos relativos à adesão a princípios de RSE. Isto significa que é muito mais fácil que a ONU consiga divulgar suas Metas do Milênio através do Global Compact e sua inserção nas empresas do que através do empenho dos professores de ética das universidades e instituições de ensino superior de qualquer país. Sem contar que será muito mais fácil conseguir recursos nas empresas, que geram riqueza e lucro, do que conseguir recursos nas universidades cujos recursos, na melhor das hipóteses está sempre voltado para a própria manutenção e para a pesquisa.

6. O papel da ONU, a Ética e RSE

A Organização das Nações Unidas constitui-se como o fórum máximo, ou como o fórum supremo da humanidade. E não há instituição mais autorizada do que a ONU para propor, através de seus organismos, normas reguladoras das ações humanas e das ações corporativas, que apontem para o desenvolvimento pleno e sustentável da humanidade. E para alcançar este sonho a ONU não só elaborou as metas do milênio como também criou um braço voltado para a perspectiva de atuação das organizações comerciais e financeiras através do Global Compact, atingindo desta forma os agentes mais importantes do cenário mundial: as empresas[26] que por um lado empregam milhões de pessoas e lhes fornecem a chance do auto-sustento e que por outro lado são as grandes responsáveis por provocar os maiores índices de entropia do planeta[27].

No Brasil,  as Metas do Milênio[28] e os princípios norteadores do Global Compact[29] encontram ressonância, respaldo e alinhamento nos indicadores propostos pelo Instituto Ethos, que por sua vez apontam para problemas universais do mundo corporativo, sobretudo pelo fato de que as organizações relacionam-se entre si através de uma teia global. Toda a perspectiva apontada por estes indicadores considera a natureza desta ecologia no interior da qual atuam as corporações. E tais indicadores estão de tal forma articulados que conseguem detectar se a atuação de uma determinada empresa é marcada por um caráter de responsabilidade social ou se restringe-se apenas a um tipo de filantropia corporativa que está mais preocupada com seus retornos para os acionistas, através de estratégias da criação de uma imagem pública que atraia a simpatia do seu potencial consumidor.

Toda a explanação feita anteriormente sobre o significado da palavra ETHOS teve como objetivo apresentar  a natureza do comportamento ético como resultado de um costume, como configuração de  um hábito ou ainda como construção de uma morada, no interior dos quais, ou sob os quais o agente ético (seja ele um indivíduo ou uma corporação) age no seio da sociedade. Portanto quando se fala de RSE não se quer saber se a empresa doa um milhão de dólares anualmente para qualquer instituição que cuide de velhinhos ou crianças com AIDS. Mas se quer saber se a atuação desta ou daquela empresa é marcada por um espírito de idoneidade que respeite todo a sua ecologia, todo o seu entorno, todo o seu ambiente no sentido mais amplo possível: meio ambiente propriamente dito, as pessoas envolvidas nos processos da empresa ou impactadas direta ou indiretamente.

É famoso o caso da Philip Morris que gastou com contribuições filantrópicas US$ 75 milhões e, na esteira, lançou uma campanha publicitária de US$ 100 milhões para divulgá-las”[30].

Ao menos a princípio, muito do discurso da RSE está fundamentado no pressuposto de que a empresa responsável socialmente aufere lucros desta sua postura seja no médio ou no longo prazo.
“A filantropia pode muitas vezes ser a forma de melhor relação custo-benefício – por vezes a única – de desenvolver o contexto competitivo, pois permite às empresas alavancar não só seus próprios recursos como também os esforços e a infra-estrutura de entidades sem fins lucrativos e outras instituições. Contribuir para uma universidade, por exemplo, talvez seja um modo muito menos oneroso de consolidar uma base local de capacitação avançada no ramo da empresa do que desenvolver um programa interno de treinamento. Finalmente, por gerar benefícios sociais amplos, a filantropia muitas vezes permite às empresas estabelecer parcerias com governos e organizações sem fins lucrativos que pensariam duas vezes antes de colaborar com esforços que revertessem em benefícios exclusivos para uma empresa em particular”[31].

E este pressuposto tem impulsionado o movimento de adesão a princípios de RSE. Todavia chegará o momento em que as empresas deverão ser responsáveis simplesmente por que ser responsável é anterior à filantropia e uma exigência da vida em sociedade.
“é importante ressaltar que a filantropia não garante que as empresas, ao praticarem o ato filantrópico, estejam respeitando o meio ambiente, desenvolvendo a cidadania ou respeitando os direitos de seus empregados”[32].


Possuir uma prática social responsável está se tornando uma prerrogativa e uma condição sine qua non para sua existência. Afinal o cidadão não pode deixar de obedecer ao semáforo vermelho sob a condição da possibilidade de resultados. A vida em comunidade exige que o cidadão obedeça o sinal vermelho e pronto, pelo bem mesmo da comunidade. O cidadão que queira construir sua residência não pode sem mais nem menos cortar a árvore que está na sua calçada, na frente do espaço onde ele planeja fazer sua garagem. Portanto, o raciocínio é exatamente  o mesmo. Os interesses do indivíduo e das corporações não podem ser anteriores ao bem comum. A vida em comunidade exige das empresas uma postura ética que em primeiríssimo lugar garanta a ausência de prejuízos a todos aqueles que serão impactados por sua atuação e que lhe permita desta forma alcançar os resultados por ela buscados[33]. Não haverá quem consiga cortar árvores e tirar lucros desta atividade sem que tal atividade seja feita de forma responsável e sustentável[34]. Foi esta percepção que fez de Sócrates o fundador da Ética. Depois de condenado à morte alguns amigos incentivaram Sócrates a fugir. E do alto de sua visão ética sobre a cidade, ele afirma que sua fuga só ocorreria em detrimento das leis e dos costumes da cidade.

Em breve a adesão a tais princípios não será algo de natureza simplesmente voluntária, mas uma condição para a própria existência no mercado, assim como a adesão a princípios e a subordinação  a padrões éticos mínimos são necessários para a vida em comunidade. Há equipes brasileiras de corredores de rua que trocaram seus tênis depois de ouvirem falar que uma certa empresa utilizava mão-de-obra infantil (num país asiático de terceiro mundo) na confecção de seus  tênis.

A penetração dos ideais da RSE e sua necessidade tem sido tamanha que, por mais espantoso que isso possa parecer há, até mesmo, quem proponha que “é possível criar formas de regulação capazes de induzir mudanças na atuação das instituições financeiras no mercado de crédito, tendo em vista o ideal de justiça social”[35]. Este estranhamento causado pelas idéias de que a empresa deve ser responsável socialmente, ou que deve ter uma conduta moral ou ética equivale ao estranhamento que há pouco mais de cem anos, no fim do século XIX, senhores de escravos tinham ao se cogitar a possibilidade de que um dia talvez não houvesse mais escravidão.

Vê-se que gradativamente a noção de responsabilidade social está sofrendo uma evolução que ajudará as empresas a evoluírem na mesma direção.

Não obstante a famosa, controvertida e muito divulgada posição jurássica de Milton Friedman[36], segundo a qual a única responsabilidade social de uma empresa seria ampliar seus lucros (afinal a empresa é um instrumento dos acionistas e qualquer doação da empresa faz com que seus acionistas fiquem impedidos de empregar seus fundos)[37], esta posição tornar-se-á insustentável afinal os lucros só serão justificáveis e idôneos se não comprometerem as condições de dignidade de seus colaboradores, da comunidade e de qualquer um que esteja interligado com a cadeia produtiva. Desde quando o lucro está acima de qualquer outra coisa? Desde quando o lucro pode ser auferido a partir da exploração predatória de gestantes, crianças, deficientes, pobres do meio ambiente, de pessoas que trabalham 16 ou 18 horas por dia? A posição de Friedman justifica qualquer atividade predatória.
“A responsabilidade social corporativa surge com a mudança de valores proposta pela sociedade pós-industrial: a valorização do ser humano,  o respeito ao meio ambiente, a busca de uma sociedade mais justa e uma organização empresarial de múltiplos objetivos. Os novos valores pós-econômicos são também evidentes na crescente insistência pública de que as corporações se preocupem com o desempenho social e não apenas econômico. A sobrevivência empresarial num ambiente competitivo passou a depender de como a estratégia de negócios lida com essas variáveis, de maneira a  se obter eficiência e lucratividade com a preservação da imagem e da reputação das companhias no mercado e na sociedade”[38].
Felizmente por mais importante que seja a ONU ela não impõe suas posições de forma autoritária, o que seria impossível pela sua própria natureza e pelo espírito democrático que rege a cosmovisão ocidental. A ONU dissemina suas propostas de tentativa de construção de consensos e propugna a  adesão voluntária de seus membros signatários.  A imposição de um discurso de forma totalitária não teria efetividade alguma no plano internacional, mas ela consegue afirmar e corroborar um discurso que tem representatividade e que está sendo elaborado numa instância onde, mais facilmente, se pode interligar os temas deste emaranhamento de questões que estão relacionadas ao tema da RSE.

O discurso proposto pela ONU não é algo apenas centrífugo, unidirecional, do centro para fora de forma radial. As Nações Unidas também são o repositório de todo um movimento centrípeto, no sentido de que para ela convergem os resultados de inúmeras pesquisas e estudos, levantamentos e censos de todo o mundo. O processo de elaboração dos documentos da ONU  se dá de forma consultiva e democrática. Os intelectuais das mais variadas área são convidados para discutir o tema em pauta com outras instâncias, sejam elas privadas ou públicas. São elaborados documentos que são propostos para a comunidade internacional, cujos membros têm a oportunidade de se tornarem signatários de forma espontânea e não coercitiva.
Portanto, ainda que se possa criticar uma série de procedimentos da ONU, sua legitimidade se sustenta pela sua representatividade, pelo respeito ao processo democrático, e pela sua universalidade centrípeta e centrífuga.

Julgamos pois, de uma pertinência sem igual todo o movimento empresarial que não busca fundamentar seus próprios critérios de sustentabilidade a partir de uma produção teórica auto-centrada, mas que busque o diálogo com outras instâncias que podem nos fornecer uma visão mais ampla, menos parcial e mais madura de todo o processo que o planeta vive atualmente.

Seria simplista demais esquematizar todos os esforços da ONU através de um desenho circular com raios que saindo de seu centro atingem o limite de uma circunferência. Esta figura serve apenas para exemplificar o que foi dito de forma parcial. Afinal a rede entretecida pelas Nações Unidas, é uma rede inextrincável, com um grau de interrelacionamento que se dá nas três dimensões e direções possíveis. Há entrelaçamentos verticais, horizontes e em profundidade. Portanto não é possível pensar a rede entretecida pela ONU, como uma rede simples ponto-a-ponto. Trata-se sim de uma rede de múltiplos pontos, multi-direcional e portanto, multi-lateral e multi-cultural no sentido de que seu esforço está na opção de fazer com que seu discurso alcance um número cada vez maior de nações signatárias, de uma forma que seu discurso cresça em progressão geométrica e não em escala aritmética.

E neste sentido, o alinhamento que a ONU tem conseguido através dos seus mais variados organismos tem se tornado  a pedra fundamental, o horizonte mais universal e o paradigma ético mais coerente e efetivo que existe hoje no planeta. É para ela que as empresas devem olhar se quiserem encontrar critérios de ação para ordenar eticamente a sua prática empresarial e social.
Este empreendimento ético da ONU não é apenas uma realização a mais. Não se trata de mais um feito, mais um congresso, mais uma declaração. Os resultados de todo este esforço influenciarão de forma decisiva o futuro do planeta e talvez dêem a chance à humanidade dela alcançar índices mais elevados de desenvolvimento humano, ou em outros termos, níveis mais elevados de realização antropológica, permitindo que muitos seres humanos vivam, senão em plenitude, ao menos de forma humanamente decente.



CONCLUSÃO

Tal como foi dito no início deste trabalho o ETHOS é a nossa morada e os nossos costumes. Nossos costumes são nossa residência e nosso abrigo. Se  a humanidade não pautar sua conduta e sua ação no mundo e com os outros por um padrão ético, o ser humano ficará ao relento, sem abrigo e a vida dos grupos e dos indivíduos estará ameaçada.

Ethos - h\qo"  (ethos com  a vogal grega êta) - significa morada, costume, entendido como o espaço construído pelo homem e portanto, espaço humano, esquema praxeológico durável, estilo de vida e ação[39]. Ethos -  e[qo" (ethos com  a vogal grega epsilon) - significa comportamento resultante  da repetição (pollach/')[40] dos  mesmos atos que ratifica o h\qo". Como resultado desta síntese de significados o  e[qo" passa a designar  o processo genético do hábito ou da disposição habitual para agir de certa maneira, que atinge seu termo no hábito individual ou social que se configura como uma conquista marcada pela estabilidade, ou como héxis (e{xi")[41] que aponta para o senhorio de si mesmo, o seu bem, a sua autarquéia (aujtavrceia)[42]. Entre o processo de formação do hábito e o seu termo como disposição permanente o ethos se desdobra como lugar privilegiado de realização do homem.
"O ethos como costume, ou na sua realidade histórico-social, é princípio e norma dos atos que irão plasmar o ethos como hábito"[43].
Desta forma, têm-se a  circularidade entre 3 momentos:
costume h\qo" - ação Pra'xi" - hábito e{xi".
O costume sofrerá a passagem à condição de lei, alcançando pois,   a emergência  definitiva da forma de universalidade. E a lei constitui-se   verdadeiramente como a  casa ou a morada da liberdade. Com o surgimento da lei nasce  a idéia do ordenamento ou constituição do estado segundo leis que nascem do ethos da comunidade e, portanto, o fechamento  de um círculo  que pode ser designado como o círculo semântico do ethos.
"A passagem do costume à lei assinala justamente a emergência definitiva da forma de universalidade e, portanto, da necessidade imanente, que será a forma por excelência do ethos, capaz de abrigar a práxis humana como ação efetivamente livre. O ethos como lei é, verdadeiramente, a casa ou a morada da liberdade"[44].

O trabalho realizado pela Organização das Nações Unidas de construir consensos em torno de princípios que protejam a vida humana em suas mais diversas situações e condições e que protejam a biosfera como um todo constitui-se como o trabalho mais importante realizado sobre a superfície deste planeta, pois em outros termos este empenho da ONU não é outra coisa senão a edificação de um horizonte de princípios cuja função é exatamente ser o abrigo de toda a humanidade. Aquilo que um dia foi prerrogativa das religiões tornou-se uma prerrogativa universal de um organismo internacional. A diversidade de religiões não permite em hipótese que qualquer credo seja o detentor da palavra final sobre como o homem deve agir. Por outro lado a humanidade precisa de critérios diretivos, frutos do consenso democrático que sirvam de parâmetros para a atividade humana sobre o planeta.

A ONU sugere princípios universais e de envergadura planetária não porque tais princípios lhe tenham sido revelados por Deus aos seus Secretários Gerais. Eles não são Sumo Sacerdotes. Estes princípios e indicadores são o resultado de um trabalho lento e demorado de consulta, de pesquisa séria, de eventos em todos os continentes do planeta onde seus assessores se fazem presentes, discutem, participam, escutam, redigem suas cartas, declarações e tratados. Não há revelação. Há construção. Todavia a argamassa desta construção, a matéria prima que fornece a aderência a toda esta estrutura esboçada pela ONU e cujos contornos são ratificados por outras instâncias internacionais e nacionais é a LEI, é o DIREITO das nações. Todos sabemos das fragilidades do Direito Internacional, visto que os tribunais internacionais ainda possuem um poder coercitivo irrisório. Portanto a aderência efetiva destes princípios às práticas corporativas não pode depender apenas de uma adesão voluntária é preciso que haja mecanismos legais de coerção e punição para que certos procedimentos sejam respeitados e tornados realidade.

Esta preocupação ética da ONU atravessa todos os seus organismos. Em exemplo disto  é o papel da Comissão Mundial para o Conhecimento Científico e Tecnológico da UNESCO (COMEST) que realizou sua terceira reunião mundial no Rio de Janeiro e convidou professores de filosofia e ética de todo o Brasil e de todos os continentes para discutirem o ensino da ética nas universidades. Muita discussão e muita experiência compartilhada para incrementar a reflexão sobre o papel dos professores de ética, os programas de pós-graduação em ética... A Unesco pretende criar uma universidade latino-americana destinada exclusivamente ao ensino da ética e suas aplicações nas mais variadas atividades humanas: do conhecimento científico à atividade empresarial.

Portanto os marcos dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio que encontram sua tradução no Pacto Global, na campanha brasileira dos 8 Jeitos de Mudar o Mundo e nos Indicadores do Instituto Ethos são, até hoje, o constructo mais bem elaborado, mais coerente e mais sólido, jamais visto na História da Ética, com um grau de facilidade e simplicidade de compreensão, eficácia,  e praticidade incomparáveis a qualquer aula magna de Filosofia Moral ministrada na mais solene das Universidades ou se comparado com o melhor livro de Ética que possa ser escrito na história. Além do mais o poder de disseminação destes parâmetros éticos ou destas metas do milênio está sendo alavancado por toda a estrutura de logística e difusão que as grandes empresas signatárias do Global Compact ou participantes da campanha nacional já possuem. Basta ir ao Pão de Açúcar para receber as sacolinhas plásticas (que em breve serão substituídas por outro tipo de embalagem mais adequada) nas quais estão estampados os 8 Jeitos de Mudar o Mundo.

A motivação para que as empresas dêem sua adesão a este movimento de RSE ainda é marcado por uma série de interesses próprios e heterônomos (como diria Kant). Afinal na maioria dos textos que podem ser estudados sobre este tema, a idéia fundamental explicitada para que se possa dissuadir o empresário a ser responsável socialmente é a seguinte: “senhor empresário, ser socialmente, ambientalmente e/ou economicamente responsável fará da sua empresa uma organização mais lucrativa, pois dará a ela uma vantagem competitiva significativa com relação às suas concorrentes”.
Todavia, hoje é absolutamente insustentável que uma empresa, que tem o direito de existir para auferir lucros  a partir de sua atividade, possa fazê-lo em detrimento de qualquer aspecto social, econômico, ambiental ou relativo aos direitos humanos dos seus colaboradores. Em verdade a ética e o direito só existem para regular os direitos dos sujeitos que vivem no seio de uma comunidade; e para que as partes não fiquem prejudicadas e existam de forma minimamente satisfatória sem que o prazer e o conforto de uma parte ocorra como causa do desprazer e do desconforto da outra parte, de forma direta ou indireta.
Gradualmente a mensagem deverá constituir-se de uma outra forma: “senhor empresário, o senhor tem todo o direito de realizar suas atividades comerciais desde que estes princípios éticos e legais sejam respeitados integralmente”.

Em síntese, o que queremos dizer e esperamos que aconteça no médio ou no longo prazo é que a RSE algum dia deixará de ser um dos temas novos e mais importantes a ser discutido para tornar-se condição sine qua non da própria condição existencial da empresa. Entretanto alcançar este resultado significa atingir um grau de qualidade e desenvolvimento moral que alguns atores nacionais e internacionais ainda não possuem. Daí a pertinência de todo este esforço global em torno dos objetivos do milênio que, no Brasil, particularmente, pode significar não só a melhoria de condições de vida de muitas pessoas, mas mais que tudo pode significar o resgate da dignidade de muitos brasileiros e a salvação das vidas de outros tantos.


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YOUNG, Ricardo, Gestão da responsabilidade social e do desenvolvimento sustentável. In Werthein, Jorge. Investimentos em educação, ciência e tecnologia: o que pensam os empresários / Jorge Werthein e Célio da Cunha – Brasília: UNESCO Brasil, 2004. Textos retirados do site da FIEMG:




[1] . A responsabilidade social e a  segunda lei da termodinâmica: Uma abordagem mais dura a respeito do tema da responsabilidade social poderia ser feita a partir de uma perspectiva mais distante das questões ético-filosóficas, e portanto mais próxima de uma compreensão determinista de caráter fisicista, se se considerar a relevância das leis da termodinâmica para a compreensão do empenho de energia que ocorre no planeta em vista da produção de mais ordem e consequentemente se se considerar a devida entropia provocada e produzida na forma de maior desorganização e produção de energia dissipada e inútil. As leis da termodinâmica fornecem a compreensão mais adequada a respeito do comportamento da energia. A combinação das duas primeiras leis indicam que o conteúdo  total de energia no universo é constante, e a entropia total do universo está aumentando continuamente. Isto significa que gradualmente toda a energia disponível no planeta, utilizada para gerar outras formas de organização e de ordem está tornando-se mais e mais indisponível. Isto significa de forma muito simples que a queima de um pedaço de carvão para a produção de qualquer bem existente, implica que houve um processo de transformação de energia, todavia a energia que saiu do carvão dissipou-se de uma forma tal que ela não pode ser novamente aproveitada em toda a quantidade previamente utilizada. É algo parecido com a bolinha de ping-pong que ao ser deixada cair no chão jamais alcançará novamente a mesma altura da qual foi lançada. Por tanto, se se considerar todo o problema da produção de bens e serviços a partir da perspectiva da segunda lei da termodinâmica sabe-se que o procedimento sustentável e responsável não pode ser apenas uma opção do plano estratégico de uma empresa mas deve ser um pressuposto organizacional que se estabeleça como condição sine qua non para sua existência e  para sua pretensão de auferir lucros mediante a sua atividade. Portanto seria possível e muito interessante fazer toda uma abordagem que relacionasse a responsabilidade social e a segunda lei da termodinâmica. Todavia a opção deste texto será por tratar este assunto de uma forma, também abrangente, mas a partir de sua contextualização no seio e no vértice da Histórica da Ética.


[2] . ATENÇÃO: Nesta seção serão utilizados caracteres GREGOS para que se possa explicar a etimologia da palavra ETHOS. Para que o grego possa ser visualizado o arquivo foi salvo utilizando-se a opção de fontes TRUE TYPES que incorporam os caracteres ao arquivo e permitem sua leitura em qualquer computador que não tenha estas fontes. Todavia para não correr o risco de que os caracteres gregos fiquem estranhos e ilegíveis o autor deste texto enviou juntamente com o arquivo a fonte utilizada para a redação em grego (GRAECA TRUE TYPE) que pode ser instalada em qualquer computador apenas clicando no arquivo.
[3] .fuvsi", ew" s.f. (fuvw) || natureza ou maneira de ser de uma coisa ||  forma do corpo, natureza da alma || disposição natural, condição natural || força produtora || substância das coisas || ser animado. O dicionário Grego-Português utilizado para indicar as expressões será o Dicionário Grego-Português  e Português-Grego de ISIDRO PEREIRA SJ, Braga, Livraria Apostolado da Imprensa, 1990, 7ª ed., 1054p. Este texto será indicado sob a abreviatura DGP.
[4] . hjtikhv, h'", s.f. Ética. DGP.
[5] . [Eqo", eo" ou ou", s.m. (e[qw) uso, costume, hábito. DGP.
[6] . LIMA VAZ, H. C. de, Escritos de Filosofia IV – Introdução à Ética Filosófica 1, Coleção Filosofia - 47,  São Paulo: Edições Loyola, 1999,  p. 13.
[7] . LIMA VAZ, H. C. de, Escritos de Filosofia IV – Introdução à Ética Filosófica 1, Coleção Filosofia - 47,  São Paulo: Edições Loyola, 1999,  p. 13.
[8] . LIMA VAZ, H. C. de, Escritos de Filosofia II - Ética e Cultura, Coleção Filosofia - 8,  São Paulo: Edições Loyola, 1988,  p. 14.
[9] . Para não complicar esta questão não estamos considerando os eventos que ocorrem no nível da microfísica, pois sabemos que os eventos quânticos são marcados por um grau de indeterminação e incerteza que faz de seus enunciados científicos proposições mais complexas do que aquelas da física tradicional.
[10] . pollach/', adv. (poluv"), || de muitas maneiras || frequentemente. DGP.
[11] . LIMA VAZ, H. C. de, Escritos de Filosofia IV – Introdução à Ética Filosófica 1, Coleção Filosofia - 47,  São Paulo: Edições Loyola, 1999,  p. 13.
[12] . h\qo", eo", ou ou" s.n. || morada, estância, residência || falando de animais; estrebaria, curral || uso costumes || maneiras de ser, caráter. DGP.
[13] . LIMA VAZ, H. C. de, Escritos de Filosofia IV – Introdução à Ética Filosófica 1, Coleção Filosofia - 47,  São Paulo: Edições Loyola, 1999,  p. 13.
[14] . LIMA VAZ, H. C. de, Escritos de Filosofia IV – Introdução à Ética Filosófica 1, Coleção Filosofia - 47,  São Paulo: Edições Loyola, 1999,  p. 13.
[15] . Ver PLATÃO, República, VI, 509b. LIMA VAZ, H. C. de, Escritos de Filosofia II - Ética e Cultura, Coleção Filosofia - 8,  São Paulo: Edições Loyola, 1988,  p. 14.
[16] . LIMA VAZ, H. C. de, Escritos de Filosofia IV – Introdução à Ética Filosófica 1, Coleção Filosofia - 47,  São Paulo: Edições Loyola, 1999,  p. 13.
[17]  . LIMA VAZ, H. C. de, Escritos de Filosofia IV – Introdução à Ética Filosófica 1, Coleção Filosofia - 47,  São Paulo: Edições Loyola, 1999,  p. 14.
[18] . Para saber quais são as Metas do Milênio não é necessário ler a Ética a Nicômaco em grego clássico, nem ler algum livro de Ética filosófica em francês ou alemão. As METAS DO MILÊNIO estão nas caixas de produtos da Natura, nas sacolinhas do Pão de Açúcar, na conta telefônica de algumas concessionárias, na Internet e em centenas de outros lugares. As METAS DO MILÊNIO servem até para determinar a forma do trote que será dado nos calouros, em algumas universidades que estão conscientes dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas.
[19] . O retorno aos gregos sempre é profícuo, pois como disse Guimarães Rosa, “Ah, os gregos. Estes disseram tudo”.
[20] . Muitas coisas começaram com a religião. O cuidado com os mortos era uma prerrogativa religiosa. Hoje o cuidado com os corpos humanos sem vida é previsto no direito. A solidariedade inaugurou seu maior surto de desenvolvimento  com a mensagem de Jesus de Nazaré, um judeu, oriental, cujo ensinamento difundiu-se rapidamente pelo Império Romano e pelo mundo helenístico. Esta mensagem forjou todas as noções de alteridade, caridade, amor oblativo, solidariedade e respeito recíproco entre os seres humanos que habitam no hemisfério ocidental. Depois de uma crise das religiões, há quem fale que o cristianismo foi a “religião de saída das religiões”, sobretudo pelos aspectos metafísicos que orientaram e determinaram a conformação do solo sob o qual cresceram as raízes da modernidade. Hoje a adesão a qualquer religião não pode ser uma exigência pública e coletiva. Uma empresa não pode exigir de seu público interno que todos sejam cristãos, budistas, ateus, gnósticos...Ela também não pode afirmar que apenas comprará de fornecedores de uma certa denominação religiosa e venderá para  clientes da mesma denominação religiosa (há casos muito específicos onde o empreendedor encontra um nicho muito restrito que é determinado exatamente por suas características religiosas, mas esta é a exceção). Mas a empresa pode exigir que todos sejam honestos, incorruptíveis, solidários. É interessante que as exigências para a salvação da alma se tornaram “exigências para a salvação da carne”. Um colaborador, um funcionário que esteja fora deste perfil não terá o seu dia de sal (seu salário) e não poderá salgar sua carne, não poderá levar para casa a proteína necessária para o sustento de sua prole. Não obstante vivamos numa cultura cuja mundividência, do ponto de vista formal e jurídico é uma mundividência laica, as empresas estão cobrando de si mesmas e de seus stakeholders aquilo que, antes, apenas as religiões cobravam de seus fiéis. Isto não é uma crítica. Ao contrário, a história da humanidade mostra que muitas das exigências sociais para a manutenção da estabilidade de uma comunidade eram postas inicialmente pelas religiões. O Ocidente recebeu da cultura hebraico-cristã a tradição dos DEZ MANDAMENTOS, que não obstante se trate de mandamentos religiosos, são antes de tudo um pequeno ordenamento jurídico sancionado por uma instância transcendente, que tinha como função máxime, amalgamar a sociedade à qual tais mandamentos se dirigiam. Não é o escopo deste texto discutir se as religiões que exigiam a solidariedade se tornarão dispensáveis depois de uma adesão unânime aos princípios de RSE, de todas as empresas do planeta. A questão que interessa para este trabalho diz respeito apenas ao grau de inteligibilidade que se pode alcançar fazendo tais considerações que vêem a matriz da RSE na Ciência do Ethos, a Ética inaugurada com os gregos e na religião cristã inaugurada 5 séculos depois com Jesus de Nazaré e seus seguidores, que O tinham como sendo o Cristo, Filho de Deus.          Em síntese, muitas das exigências sociais que normatizam e regulam  o relacionamento intersubjetivo e intercomunitário foram, em seus primórdios comandos éticos de matriz religiosa. Aos poucos estes valores vão se laicizando e sendo incorporados ao corpo social de forma gradual através de vários mecanismos: a lei, os hábitos e costumes da própria população, as exigências do mercado, a preservação da espécie...
[21] . VEIGA, João Paulo Cândia, O Compromisso das Empresas com as Metas do Milênio, São Paulo: Instituto ETHOS de Empresas e Responsabilidade Social, 2004, p. 3.
[22] . Seria possível pontuar como momento mais importante e decisivo o evento de 1992 – ECO92. Mas também seria possível indicar, se quiséssemos  o dia 10 de dezembro de 1948 – Declaração Universal dos Direitos Humanos. Todavia a opção por indicar a Cúpula do Milênio como o momento germinal de todo este surto de RSE no Brasil decorre do alinhamento explícito entre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, o Global Compact, a Campanha Nacional pela Cidadania e Solidariedade e os Indicadores do Instituto Ethos.
[23] . Orientações sobre o Global Compact. Ver o MANUAL DO GLOBAL COMPACT - Entendimento Prático da Visão e dos Princípios: “O Secretário-Geral das Nações Unidas Kofi Annan propôs primeiramente o Global Compact no Fórum Econômico Mundial em 31 de janeiro de 1999. Em meio a um cenário de crescente preocupação sobre os efeitos da globalização, o Secretário-Geral convocou lideranças empresariais a se unirem a uma iniciativa internacional – o Global Compact – que aproximaria as empresas das agências das Nações Unidas, organizações do trabalho, organizações não governamentais e outros atores da sociedade civil, para a promoção de ações e parcerias na busca de uma visão desafiadora: uma economia global mais sustentável e inclusiva. O Secretário-Geral entendeu que enquanto a cidadania empresarial - também denominada de “responsabilidade empresarial”, “desenvolvimento sustentável” e “resultado triplo”, entre outros termos – estava emergindo como uma tendência no mundo dos negócios, não existia estrutura internacional para assistir as empresas no desenvolvimento e na promoção da gestão global com base em valores. Mediante a consolidação do Global Compact em princípios aceitos internacionalmente, os participantes poderiam se sentir seguros de que suas ações estariam sendo guiadas por valores universalmente sustentados e endossados. A fase operacional do Global Compact foi lançada em um evento de alto nível na Sede das Nações Unidas em Nova Iorque, em 26 de julho de 2000. A reunião, presidida pelo Secretário-Geral, reuniu executivos sêniores de 50 grandes empresas e líderes de organizações não governamentais atuantes em direitos do trabalho, direitos humanos, meio ambiente e em desenvolvimento sustentável. A partir do lançamento do Global Compact, centenas de empresas e de organizações se engajaram na iniciativa. Os participantes do setor privado representam virtualmente todos os setores industriais, comerciais e de serviços, de cada continente. O Global Compact é uma iniciativa voluntária de cidadania empresarial, e como tal, não é um instrumento regulador – não “policia” nem gera obrigações de comportamento ou de ações das empresas. Ao invés disso, o Global Compact confia no interesse próprio e esclarecido das empresas, das entidades do trabalho e da sociedade civil, para iniciar e compartilhar uma ação substantiva na busca dos princípios nos quais se baseia o Global Compact. O Global Compact procura oferecer uma estrutura contextual para encorajar a inovação, as soluções criativas e as boas práticas entre os participantes. O Global Compact não substitui estruturas reguladoras ou outros códigos. De fato, o Global Compact acredita que as iniciativas voluntárias e os sistemas reguladores se complementam, e quando combinados, fornecem um grande incentivo à ampla adoção da cidadania empresarial responsável. A ênfase foi dada em fazer surgir a mudança empresarial pelo uso de uma abordagem de aprendizagem que facilita a discussão entre os vários grupos e constrói novas relações para futuros projetos. Ao adotar tal abordagem ao invés da clássica abordagem reguladora, o Global Compact entrou em “território não regulamentado”, resultando em críticas daqueles que gostariam que o mesmo tivesse “garras mais afiadas” através do monitoramento e da inspeção. Entretanto, conforme afirmado, estas não são áreas do âmbito do Global Compact. O Global Compact baseia-se em nove princípios nas áreas de direitos humanos, direitos do trabalho e proteção ambiental. Estes princípios decorrem de consenso universal que se baseia na: 1. Declaração Universal de Direitos Humanos; 2. Declaração da Organização Internacional de Trabalho sobre os Princípios Fundamentais e Direitos no Trabalho; 3. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. O Global Compact solicita que as empresas integrem estes princípios em suas principais operações, e adotem projetos e atividades empresariais que favoreçam os princípios e ampliem os objetivos das Nações Unidas. Um dos objetivos principais é incorporar os princípios, e portanto, a boa cidadania empresarial, na estratégia e na gestão empresariais, e na tomada de decisões. Com respeito aos projetos, o Global Compact está encorajando iniciativas e programas com ênfase no cumprimento dos 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas. É importante destacar que o Global Compact não é uma agência tradicional das Nações Unidas, mas uma rede que existe para promover uma iniciativa. No centro dessa rede está o Escritório do Global Compact, com quatro agências das Nações Unidas – o Escritório de Alto Comissariado de Direitos Humanos (OHCHR), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Além das Nações Unidas, que atua como convocadora e facilitadora, todos os atores sociais relevantes estão representados na rede do Global Compact:  üempresas, cujas ações busca influenciar, ü trabalhadores, onde ocorre o processo efetivo da produção global, ü organizações da sociedade civil, representando a mais ampla comunidade de participantes, e ü governos, que definiram os princípios em que se baseia a iniciativa.
[24] . ONU, PNUD, Governo Federal, Instituto Ehtos
[25] . BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política, vol I. Brasília, UnB, 1983.
[26] . Michael E. PORTER e Mark R. KRAMER. A vantagem competitiva da filantropia corporativa, in RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ, M.V. (org), Ética e Responsabilidade Social nas Empresas,Harvard Business Review, São Paulo: Ed. Campus, 2005, p. 139. “Hoje em dia, a competitividade depende da produtividade que a empresa é capaz de extrair  de força de trabalho, capital e recursos naturais para produzir bens e serviços de alta qualidade. A produtividade  depende de funcionários capacitados que disponham de segurança, saúde e moradia decente e sejam movidos pelo senso de oportunidade. Preservar o meio ambiente é benéfico não só para a sociedade mas também para a empresa, pois a redução da poluição e dos resíduos pode redundar num uso mais produtivo dos recursos e contribuir para a produção de bens valorizados pelos consumidores. Melhorar as condições sociais e econômicas de países em desenvolvimento pode gerar ambientes mais produtivos para as operações da empresa, além de novos mercados para seus produtos. A rigor, o que estamos constatando é que, muitas vezes, o método mais eficaz para enfrentar muitos dos problemas mais prementes do mundo é  mobilizar o setor empresarial de forma a beneficiar a um tempo a sociedade e as empresas”. O grifo é nosso.
[27] . Tal como já se disse em uma das primeiras notas deste texto, a entropia diz respeito à segunda lei da termodinâmica, segundo a qual a dissipação de energia do universo está aumentando constantemente. O universo é muito grande. O que nos interessa é o planeta Terra que se constitui como um sistema fechado e só recebe energia do Sol e de nenhum outro lugar além do Sol. Portanto, toda a forma de energia cujas fontes estejam no próprio planeta podem se esgotar, caso a energia dissipada destas fontes terrestres não sejam utilizadas de forma otimizada, diminuindo resíduos sólidos, líquidos, gasosos e resíduos sociais, econômicos e humanos. Afinal toda a pobreza existente é de alguma maneira uma espécie de resíduo desta forma de organização social que se estruturou em função das matrizes energéticas disponíveis neste momento histórico. O ser humano é um organismo, algo organizado que para existir arranca energia dos frutos que come e depois lança os resíduos destes frutos na forma de dejetos, bagaços. Ele bebe água potável, mas depois lança líquidos poluentes no solo e nos rios. Para um ser organizado existir é necessário arrancar energia de outros seres e conseqüentemente desorganizar estes seres, diminuindo por tanto a quantidade de energia contida na fonte de recursos. Todo ser organizado existe desorganizando outros seres. Todo ser organizado existe em detrimento da organização de outros seres. Portanto, quanto mais organizamos nossa vida social geramos outros tipos de desorganização no ambiente que nos cerca. Como resolver isto? Trata-se de uma lei da física. Como diminuir a entropia do planeta. Para andarmos de carro desorganizamos a atmosfera. Para melhorar a atmosfera vamos precisar desorganizar outras realidades, vamos dispender outros tipos de energia. Portanto o ideal é atacar no começo do ciclo. Produzir carros movidos a hidrogênio será algo responsável pois a entropia provocada na Terra será menor. O homem não terá como fugir deste tipo de consideração. E as empresas muito menos. Ver RIFKIN, J. A Economia do Hidrogênio – a criação de uma nova fonte de energia e a redistribuição do poder na Terra. São Paulo: M.Books, 2003. 300p.
[28] . As Oito Metas do Milênio, ou os chamados ODM – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio são os seguintes:
1.     Erradicar a pobreza extrema e a fome
1.1.   Reduzir pela metade a proporção de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia
1.2.   Reduzir pela metade a proporção de pessoas  que sofrem de fome
2.     Atingir a educação básica universal
2.1.   Assegurar que todos os meninos e meninas concluam o curso completo da escola fundamental
3.     Promover a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres
3.1.   Eliminar a disparidade de gênero na educação fundamental e na secundária, preferencialmente até 2005, e em todos os níveis até 2015
4.     Reduzir a mortalidade infantil
4.1.   Reduzir em até dois terços o índice de mortalidade entre as crianças com menos de cinco anos
5.     Melhorar a saúde materna
5.1.   Reduzir em até três quartos o índice de mortalidade das mães
6.     Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças
6.1.   Parar e começar a reverter o crescimento do HIV/AIDS
6.2.   Parar e começar a reverter a incidência da malária e de outras doenças importantes
7.     Assegurar a sustentabilidade ambiental
7.1.   Integrar os princípios de desenvolvimento sustentável em políticas e programas nacionais; reverter a perda de recursos ambientais
7.2.   Reduzir pela  metade a proporção de pessoas sem acesso sustentável à água potável
7.3.   Alcançar uma melhoria significativa nas vidas de pelo menos 100 milhões de moradores de favelas até 2020
8.     Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento
8.1.   Desenvolver ainda um sistema comercial e financeiro aberto com base em normas, previsível e não discriminatório.
8.2.   Inclui um compromisso para uma boa governança, desenvolvimento e redução da pobreza – nacional e internacionalmente
8.3.   Tratar das necessidades especiais dos países menos desenvolvidos. Isto inclui o acesso à isenção de tarifas e quotas em suas exportações; aumentar o perdão da dívida  para os países pobres com dívida substancial; cancelamento da dívida bilateral oficial e assistência oficial mais generosa para o desenvolvimento de países comprometidos com a diminuição da pobreza
8.4.   Tratar das necessidades especiais dos Estados cercados e pequenas ilhas em desenvolvimento
8.5.   Tratar de forma abrangente os problemas da dívida de países em desenvolvimento por meio de medidas nacionais e internacionais para tornar a dívida sustentável a longo prazo
8.6.   Em cooperação com os países em desenvolvimento, desenvolver trabalho produtivo e decente para os jovens
8.7.   Em cooperação com as indústrias farmacêuticas, fornecer acesso aos remédios essenciais disponíveis nos países em desenvolvimento
8.8.   Em cooperação com o setor privado, disponibilizar os benefícios de tecnologias novas – especialmente tecnologias de informação e comunicações.
[29] . Ver o MANUAL DO GLOBAL COMPACT - Entendimento Prático da Visão e dos Princípios: Os nove Princípios do Global Compact são: 1. Apoiar e respeitar a proteção dos direitos humanos proclamados internacionalmente; 2. Evitar a cumplicidade nos abusos dos direitos humanos. 3. Defender a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva. 4. Eliminar todas as formas de trabalho forçado ou compulsório. 5. Erradicar efetivamente o trabalho infantil. 6. Eliminar a discriminação no emprego e na ocupação. 7. Apoiar uma abordagem preventiva para os desafios ambientais. 8. Promover uma maior responsabilidade ambiental, e 9. Encorajar o desenvolvimento e a difusão das tecnologias ambientalmente sustentáveis. Há um décimo princípio em vias de incorporação ao Global Compact, relativo  ao tema corrupção nas empresas. Este princípio “trata da recusa, por parte das empresas, de envolvimento corporativo com a corrupção, sob todas as suas formas”.
[30] . Michael E. PORTER e Mark R. KRAMER. A vantagem competitiva da filantropia corporativa, in RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ, M.V. (org), Ética e Responsabilidade Social nas Empresas,Harvard Business Review, São Paulo: Ed. Campus, 2005, p. 134.
[31] . Michael E. PORTER e Mark R. KRAMER. A vantagem competitiva da filantropia corporativa, in RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ, M.V. (org), Ética e Responsabilidade Social nas Empresas,Harvard Business Review, São Paulo: Ed. Campus, 2005, p. 142.
[32] . TENÓRIO, Fernando Guilherme (Organizador), Responsabilidade Social Empresarial – Teoria e Prática, Rio de Janeiro: FGV Editora, 2004, p. 29.
[33] . Talvez valha a pena ressaltar que a concorrência sempre será impactada pela atuação das ações de organizações do mesmo setor. E o impacto pode ser prejudicial e, neste caso, este tipo de prejuízo pode ser legítimo desde que não haja procedimentos desonestos e corruptos.
[34] . Em certos mercados de madeiras já é possível encontrar grandes empresas que só vendem madeiras certificadas pela ONG Forest Stewardship Council que garante que aquela madeira não foi retirada de área preservada e que no trabalho de extração não houve participação de trabalho infantil nem de trabalho escravo. Ora, o que há de mais nisto? É óbvio que o trabalho escravo e o trabalho infantil é algo absolutamente execrado pela comunidade ocidental!! E se a área é de proteção e dela se retira madeira, isto também é crime!! Tal situação pode parecer exagerada, mas infelizmente se encontra trabalho escravo, infantil e a exploração predatória de áreas preservadas.  E uma empresa que transgride estes princípios básicos deveria simplesmente deixar de existir. A madeira certificada é um plus que garante a inexistência de atividades predatórias e violentas, quando tal situação, na verdade, deveria ser condição básica para o exercício das atividades comerciais, simplesmente pelo fato de que explorar o trabalho infantil além de imoral é crime. E o mesmo se pode dizer do trabalho escravo e da exploração de áreas de preservação.
[35] . FLORENZANO, Vincenzo D., Sistema Financeiro e Responsabilidade Social – uma proposta de regulação fundada na teoria da justiça e na análise econômica do direito. São Paulo: Texto Novo Editora, 2004, p. 15.
[36] . FRIEDMAN, M. Capitalismo e Liberdade. 2.ed. São Paulo; Nova Cultural, 1985.
[37] . Michael E. PORTER e Mark R. KRAMER. A vantagem competitiva da filantropia corporativa, in RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ, M.V. (org), Ética e Responsabilidade Social nas Empresas,Harvard Business Review, São Paulo: Ed. Campus, 2005, p. 135.
[38] . TENÓRIO, Fernando Guilherme (Organizador), Responsabilidade Social Empresarial – Teoria e Prática, Rio de Janeiro: FGV Editora, 2004, p.45.
[39] . EF II p. 13.
[40] . pollach/', adv. (poluv"), || de muitas maneiras || frequentemente. DGP.
[41] . e{xi", ew" s.f. (e[xw) || boa constituição do corpo || estado de alma, hábito || capacidade, faculdade || experiência. DGP.
[42] . aujtavrceia, a", s.f. (auj., ajrkevw) || autarquia, estado do que se basta a si mesmo. DGP.
[43] . EF II p. 15.
[44] . EF II p. 16.

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