Mendel Ulisses Calipso
(pseudônimo de Rubens Godoy Sampaio para o Concurso " II Prêmio Banco Real - Talentos daMaturidade / 2000)
Concurso 2º Prêmio Banco
Real
Talentos da Maturidade
Convívio entre as gerações:
alternativas para uma sociedade que envelhece
O homem, o conhecimento e o tempo
Brasil
2000
Mendel Ulisses Calipso
(pseudônimo)
Concurso 2º Prêmio Banco
Real
Talentos da Maturidade
Categoria: Monografia
TEMA
Convívio entre as gerações:
alternativas para uma sociedade que envelhece
TÍTULO
O homem, o conhecimento e o tempo
O
RESGATE AXIOLÓGICO DO PROVECTO NA
SOCIEDADE
HODIERNA DO CONHECIMENTO
O texto obedece às exigências
de formatação do edital do concurso:
a - o autor utilizou ARIAL
a - o autor utilizou ARIAL
com tamanho 12 para o texto principal
e com tamanho 10 para as notas de rodapé
segundo os padrões de normalização da ABNT;
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b - espaçamento duplo e limite de 30 páginas de
formato A4;
c - folhas de
rosto, bibliografia,
e sumário numerados com algarismos romanos
e não contabilizados na soma das páginas do texto principal;
e sumário numerados com algarismos romanos
e não contabilizados na soma das páginas do texto principal;
d – a utilização de papel com gramatura superior
aparenta um volume que parece ultrapassar o limite de páginas;
aparenta um volume que parece ultrapassar o limite de páginas;
e – a identificação do autor segue em envelope
anexo.
Trebusco.
Será
este nosso desengonço e mundo o plano – intersecção de planos - onde se completam de fazer as almas?
Se
sim, a ‘vida’ consiste em experiência extrema e séria; sua técnica ou pelo
menos parte – exigindo o consciente alijamento, o despojamento de tudo o que
obstrui o crescer da alma, o que a atulha e soterra? Depois o ‘salto mortale’ ... – digo-o, do jeito,
não porque os acrobatas italianos o aviventaram, mas por precisarem de toque e
timbre novos a comuns expressões amortecidas. E o julgamento-problema, podendo
sobrevir com a simples pergunta:
‘Você chegou a existir’?
João
Guimarães Rosa
SUMÁRIO
Sumário - 4
Objetivo - 5
Introdução - 5
Capítulo
Primeiro - O tempo e a Senectude: o
Homem Sábio - 7
Capítulo
Segundo - A mudança de paradigma:
vingança de Zeus - 12
Capítulo
Terceiro - Convívio de Geraçòes: o
entardecer da Sectude. - 19
Conclusão
- Convívio de Gerações: a Revalorização do Conhecimento - 26
Bibliografia - 29
Objetivo
O
escopo deste texto é apresentar o tema proposto para este concurso a partir da
evolução de uma conjunção de três termos, a saber, o homem, o conhecimento
e o tempo, em três momentos
distintos da história da humanidade. Pois, apresentando tal evolução
se poderá compreender, a partir de uma perspectiva histórico-evolutiva,
as alternativas possíveis ao convívio de gerações, neste momento de passagem do
segundo para o terceiro milênio, que se caracteriza, a partir da temática ora
em questão, como um momento histórico marcado pelo envelhecimento das
sociedades e por um alto nível de desenvolvimento tecnológico, e mais
especificamente biotecnológico, acompanhado, por sua vez por grandes
avanços e investimentos
em pesquisa na área da gerontologia.
Portanto,
de forma mais precisa, o objetivo deste trabalho consiste em rearticular os
três tópicos supra-indicados (o homem, o conhecimento e o tempo) de uma forma que o homem provecto
tenha seu valor e sua dignidade resgatados e recolocados, justamente a partir
da perspectiva da aquisição do conhecimento.
A
partir do objetivo deste texto, a saber, a apresentação de alternativas de
convívio entre gerações que vivem numa sociedade que envelhece, este trabalho
irá se organizar sobre um tripé conceitual constituído por três realidades
distintas: o homem, o conhecimento e o tempo.
A
relação entre estes três termos transformou-se muito no correr dos séculos que
constituem a história ocidental.
A partir desta relação pode-se detectar ao longo da história três grandes paradigmas de articulação desta mesma relação.
Num
primeiro momento o homem com muito tempo de vida é detentor de um conhecimento
tradicional que deve ser comunicado oralmente para os seus descendentes com o
escopo de dar manutenção às tradições de sua respectiva comunidade.
No segundo momento aqui apresentado, o homem que detém este tipo de conhecimento terá seu valor exaurido e esgotado, pois a invenção da escrita e ulteriormente a invenção da imprensa, somadas à mentalidade mecanicista do cartesianismo e ao mito do progresso iluminista, cultivarão a idéia de inauguração de uma nova era purgada de todo e qualquer vestígio da tradição medieval, ou da agora chamada Idade das Trevas. Esta nova era iniciada após a Revolução Científica, após o Renascimento, o Humanismo e o Iluminismo recebeu o nome de Idade Moderna. E na Modernidade não há lugar para o velho, para o antigo, para o ultrapassado.
Finalmente, no momento atual da chamada Idade Contemporânea, e mais especificamente neste instante de passagem de séculos, ou ainda de mudança de milênio, o homem provecto encontra-se numa certa posição de marginalidade, não obstante, o aumento da população cuja faixa etária se encontra acima dos 60 anos. Todavia, nesta sociedade técnico-científica, genitora da biotecnologia e recém batizada como sendo a sociedade que inaugurou a era da comunicação e da informação, há, sem dúvida alguma, saídas para o problema do envelhecimento generalizado da população planetária, sobretudo se se conseguir articular e realizar, de forma efetiva, um quiasmo, ou um entrelaçamento entre envelhecimento e formação humana, vem a ser, entre senescência e conhecimento. Entretanto tal rearticulação, já vivida na Antiguidade Clássica, deverá ser assumida a partir de uma abordagem distinta daquela vivida na Antiguidade e no Medievo. Pois, o homem hodierno não se encontra, neste momento, tal como os seus antepassados, ligado à sua ascendência. Mas conectado e interessado em sua descendência e em seu futuro. Portanto, nos dias de hoje, o conhecimento que o homem senil deve possuir deverá ser, sempre, um “conhecimento do futuro”, e que possa mantê-lo por muito mais tempo no interior do mercado de trabalho e da sociedade mediática que vive, sobretudo, em função da aquisição de conhecimento e da manipulação de informações.
O Tempo e a Senectude: o
homem sábio.
Quod senior loquitur omnes
consilium putant [1].
O que o velho diz todos consideram sensato
É sabido que o homem vive num espaço tridimensional. Entretanto, o movimento da vida humana só é comprendido a partir da notória percepção de uma 4ª dimensão: o Tempo, o implacável.
Tal
como Einstein afirmou, o homem vive num
horizonte quadridimensional, pois ele existe no espaço-tempo. E o Tempo
constitui-se como uma das idéias geratrizes e centrais da problemática sugerida
como tema deste concurso.
Para dar a devida relevância a esta dimensão da
temporalidade da vida humana, o autor destas páginas colocará, logo abaixo, uma
pequena história retirada da Teogonia de Hesíodo (século X aC) que se constitui
como sendo uma das mais antigas formas de compreensão do Tempo, e que, também faz parte da tradição cultural
do Ocidente: o mito de Cronos e Zeus.
“Longas insônias viveu Cronos, de olhos pregados no escuro do medo, à
procura de resposta: como evitar que se cumprisse a terrível profecia da mãe
Gaia? Como impedir que um de seus próprios filhos lhe usurpasse o trono?
Depois de muitos planos e tramas,
confusão e medo, a resposta fulgurou dentro da noite. Cronos, de um salto,
ergueu-se e correu para junto de Réia, sua mulher. Mas não dirigiu-lhe palavra
alguma. Em silêncio, agarrou seu primeiro filho, que acabara de nascer, e
devorou-o. Era o início de sangrenta rotina. Outras crianças a pobre Réia deu à
luz, porém a nenhuma teve o prazer de acalentar. Estava cansada. Vivia infeliz.
Precisava encontrar uma solução definitiva, para salvar o filho que agora
abrigava no vente. Procurou, pois, a sábia Gaia e, ajudada por ela, traçou um
plano.
Ao chegar o momento do parto, Réia
iludindo a ininterrupta vigilância do marido, ocultou-se numa distante caverna,
nos densos bosques de Creta. Ali, Zeus, veio ao mundo.
Enquanto Gaia, a Mãe-terra, acolhia o
menino em seus braços, a deusa retornou ao lar. Vibrava de alegria, mas também
de medo: podia falhar a trama tão carregada de esperanças.
O amor pelo filho, entretanto, dominou
os receios. Réia apanhou do chão uma pedra, envolveu-a em grossas faixas e
entregou-a a Cronos, que, sem perceber o logro, rapidamente a ingeriu. Então a
mãe de Zeus suspirou aliviada.
Salvara o filho, mas selara a profecia: em dia próximo, o último
filho de Cronos tomaria das armas para encerrar o sombrio reinado de sangue. E
para sempre se instalaria no trono do mundo”.
A
fúria e a insaciedade de Cronos, do Tempo são implacáveis. Todos serão
engolidos pelo Tempo. Não há como fugir à inexorabilidade desta determinação: “O Tempo nos devora a todos”.
Como,
pois, fugir da virulência e da violência inexoráveis e infrangíveis do Tempo?
A História é a primeira grande estratégia humana para fugir
e escapar da voracidade de Cronos. Através da História o homem consegue
recuperar seu passado, orientar sua vida e redirecioná-la em vista de um futuro
infinito, através da transmissão desta mesma História à sua descendência:
“Eu te cumularei de
bençãos, disse Deus a Abraão, eu te darei uma posteridade tão numerosa quanto as estrelas do céu e
quanto a areia que está nas praias do mar…”[2].
A
História também se apresenta como a mãe de todas as tramas, fornece inumeráveis
estratégias, tais como a de Gaia e Réia, para, de uma forma ou de outra,
ludibriar Cronos.
Na Antiguidade pré-letrada, a estratégia para se derrotar a fúria e a implacabilidade da vinda inexorável da morte e do esvair-se da memória de um povo, nos mais longínquos abismos do tempo, os homens valorizaram ao máximo a memória humana. Esta memória era manutenida pelo exercício diuturno da oralidade. Os reis e os nobres desta época não sabiam escrever, não precisavam e não queriam. O exercício e a manutenção da memória eram os meios através dos quais se mantinham vivos a tradição, os costumes, o ethos de um povo, toda a sua legislação, enfim, toda sua História, vem a ser toda sua experiência. E o saber desta experiência se constituía como sendo o conhecimento por excelência.
Os
grandes poemas homéricos - a Ilíada e a Odisséia – viveram por séculos na
memória de homens que tinham como tarefa de suas vidas recitar tais poemas,
pois neles se encontrava toda a tradição dos povos gregos. Ao mesmo tempo que o
rapsodo recitava os inumeráveis versos destes poemas, ele ensinava-os aos mais
jovens. E a audiência corrigia os possíveis enganos do rapsodo. Portanto a
tarefa da recitação de tão grandes poemas possuía um aspecto pedagógico e
também social. Veja-se o exemplo da legislação de Sólon, que apesar de ser uma
das primeiras formas de registro escrito, foi redigida em versos. Toda a
legislação de Sólon encontra-se metrificada, pois o registro pode apodrecer, a
tábua queimar, a pedra quebrar, mas a
MEMÓRIA, para os gregos antigos era a forma mais sólida e segura de manutenir a
estabilidade de suas leis e a história de seus heróis (Agamenon, Ulisses,
Aquiles, Penélope, Heitor, Príamo, Helena, Enéias, Pátroclo e tantos outros).
No
texto abaixo, retirado da Ilíada de Homero, tem-se a descrição do único momento
de paz desta grande obra. Esta descrição é na verdade a apresentação minuciosa
do relevo que se encontra gravado no escudo de Aquiles, o personagem principal
da grande batalha dos aqueus contra os troianos. E neste texto está consignada
a sublime tarefa dos anciãos da cidade que nela exercem a magistratura e dizem
o direito do alto de sua sapiência e probidade inatacáveis e irrepreensíveis:
“Ambos
os contendores, um juiz, exigiam, que fim à disputa pusesse./ O povo, à volta,
tomava partido, gritando e aplaudindo./ A multidão os arautos acalmam; no centro, os mais velhos em um recinto sagrado,
sentados em pedras polidas,/ nas mãos os cetros mantêm dos arautos de voz sonorosa…”[3].
Os
textos de Sólon, escritos na forma de verso, eram sabidos até mesmo pela
juventude, pois tais versos eram lidos e recitados nas praças públicas, nos
tribunais, nos mercados...
E
obviamente os detentores mais ilustres de todo este conhecimento eram os
anciãos das comunidades e das cidades gregas.
E neste momento, entra em cena a 2ª idéia geratriz desta monografia: o
conhecimento. E o valor deste conhecimento era absolutamente inquestionável.
Aquilo que tais anciãos TRAZIAM[4]
(TRADIção) em suas mentes era a vida de todo um povo e de toda uma
comunidade. Este fato implicava o
convívio entre gerações como uma exigência necessária e absolutamente
imprescindível. Pois os jovens só poderiam adquirir o conhecimento através do
encontro com estes anciãos que exerciam a nobre missão de conservar em suas
mentes o tesouro histórico de seus
antepassados, as façanhas destemidas e corajosas de seus heróis, as histórias
dos fundadores mitológicos das suas cidades e das suas estirpes.
Os jovens precisavam dos anciãos.
Neste
momento da História do Ocidente, a senectude é vista como uma benção e como uma
dádiva dos deuses, bem como uma situação geradora de um prestígio gigantesco. O advento da senescência corresponde ao advento da
própria sabedoria e do conhecimento. O Velho é o homem que sabe e
transmite seu saber à descendência de sua linhagem ou de sua comunidade.
Portanto, o motivo maior da valoração da velhice devia-se ao conhecimento
adquirido durante toda uma vida e que seria transmitido através da oralidade, e
portanto, através do contato com os outros homens. Assim, o homem conseguia
contornar e “driblar” a fúria e a voracidade de Cronos, vem a ser, do próprio
tempo. O Provecto[5],
cheio de conhecimento, que consiga transmitir sua sabedoria para uma segunda
geração, para uma terceira geração e às vezes até a uma quarta geração, é um
homem que também sucumbirá à morte, todavia, sua sabedoria e a história de seus
ascendentes, de seus heróis e de suas façanhas irão viver para sempre na memória
de seus descendentes e dos homens que tenham-no escutado e conhecido. E estas
gerações por sua vez, herdariam a missão de continuar transmitindo o mesmo
saber por toda a eternidade... E com isto a
vitória na batalha contra o tempo é alcançada não no plano da
obstaculização do processo degenerativo do organismo humano, mas no plano da transmissão do conhecimento. “Eu
morrerei, mas minha descendência saberá quem fui, ela venerará minha pessoa e
na memória do meu povo eu viverei eternamente!” Tal mentalidade é notória
sobretudo na leitura da clássica obra de Fustel de Coulanges, “A Cidade
Antiga”.
É
pois, neste entrecruzamento do tempo
com o conhecimento que o homem velho detém o privilégio de
encontrar-se numa posição social de máximo prestígio. O homem que viveu muito
tempo e adquiriu conhecimento é um homem realizado que cumpriu a tarefa e a aventura de sua vida e ainda
colaborou para a perpetuação da sua linhagem e da sua estirpe.
Neste
entrelaçamento conceitual, formado pela tríade supra anunciada, o homem que
viveu muito tempo e armazenou e conservou em sua memória este saber, conseguiu
elevar-se à condição do cidadão valoroso
e virtuoso, responsável pela “eternidade da sua comunidade”.
Foi
portanto através de um tipo de conhecimento que o homem venceu este combate
contra o tempo. Há portanto, neste momento do desenvolvimento civilizatório do
ocidente uma espécie de cronoinversão, na qual o status do provecto é incontestável.
Este
modelo epistemológico e antropológico, mutatis
mutandi, seguiu a mesma orientação durante a Idade Média, tendo sido
rompido, apenas com o advento da Ciência Moderna. Será apenas com a chegada do
pensamento cartesiano e com a revolução científica inaugurada com Copérnico e
concluída com a mecânica de Galileu e Newton que ocorrerá uma transformação
significativa na forma de se compreender todo o universo, inclusive o homem. E,
em vista disto, também ocorrerá uma mudança na compreensão do papel do
senescente no interior dos grupos humanos. E tal mudança irá provocar uma
alteração tão profunda na posição do homem idoso, no interior da sociedade, que
se assistirá à fundação de uma espécie
de gerontofobia, a qual será melhor
compreendida a partir da exposição que se segue no próximo capítulo.
O tempo urge.
Eu deveria acelerar os movimentos
para chegar a tempo e, em vez disto, vejo-me obrigado, dia após dia, a mover-me
cada vez mais devagar. Emprego mais tempo e disponho de menos tempo.
Pergunto a mim mesmo, preocupado:
- Será que vou conseguir?
Norberto Bobio
O Tempo da Memória – De Senectude
Durante o período que vai da Antiguidade até o fim da Idade
Média havia um tipo de modelo antropológico e epistemológico bastante distinto
do modelo que será inaugurado com o início
da Idade Moderna e mais especificamente com o êxito estrondoso da Revolução
Científica. Naquele modelo, o homem com
idade avançada era portador de um valor incomensurável, sobretudo pelo fato de
ser um homem portador de um conhecimento inigualável e inestimável. A
transmissão deste conhecimento implicava a identidade e a coesão da própria
comunidade que se constituía e se organizava simbolicamente em torno deste
saber da tradição.
No entanto, a chegada de uma
nova era transformará profundamente a idéia que antes se tinha do homem idoso.
Neste capítulo, este texto irá explicitar alguns tópicos dos quais o estudioso
não pode desviar sua atenção, caso ele queira, de fato, compreender os marcos
decisivos desta transformação provocada sobretudo pela chamada Revolução
Científica ou Intelectual, ocorrida na passagem do Medievo para a Modernidade.
Os fatos mais marcantes da chamada Revolução Científica ocorreram no campo
da Astronomia e da Física. Os pressupostos
epistemológicos que dirigiram este movimento civilizatório e que
repercutiram em todos os âmbitos da vida
humana conduziram o pensamento da época às teorias do contrato social, à física
clássica de matriz galileano-newtoniana e ao criticismo kantiano provocando finalmente, o início do movimento que
originou o predomínio de um tipo de universalidade tecnicamente denominada
pelos estudiosos da cultura como uma universalidade
hipotético-dedutiva, que por conseguinte,
desencadeou um processo profundamente erosivo da compreensão
antropológica e ética das idades históricas anteriores.
Dentre os marcos principais dos séculos da Revolução
Científica, está o começo do abandono do aristotelismo que adquiriu pleno vigor
entre os séculos XIII e XVI. A gradual derrocada do aristotelismo e a aquisição
de novos instrumentos metodológicos de inspiração platônica, marcados sobretudo
pela matemática, foram os elementos constitutivos da emergência da mentalidade
que possibilitou o abandono do sistema ptolomaico (geocentrismo) por parte de N. Copérnico (heliocentrismo)[6].
Após Copérnico, apareceu Ticho Brahe que propôs um sistema
misto, no qual a Terra gira em torno do Sol e os outros planetas em torno da
Terra. Tal proposição ‘quebrou’ as esferas cristalinas e concêntricas sobre as
quais giravam os planetas.
Finalmente, o discípulo de T. Brahe, Kepler, já dispondo do sistema heliocêntrico
de Copérnico e já prescindindo das esferas cristalinas (destruídas por seu
mestre - T. Brahe) propõe que as órbitas planetárias não são circulares, mas
elípticas. Com isso ele consegue elaborar as leis de atração das massas.
Galileu Galilei, por sua vez, quis provar que Copérnico e Kepler estão certos. As
provas que tem para demonstrar a correção de seus antecessores não são
decisivas e por isso encontra sérios problemas. No entanto, sua noção de
experimento científico é consistente e repousa sobre o instrumental da análise matemática. O modelo de experiência científica de Galileu será
de suma importância para o paradigma epistemológico que está se formando.
Enfim, Newton propôs a compleição mais consistente da
Física. Seu êxito é incontestável. E tamanho sucesso faz com que as regras e o
método da Física Clássica venham a ser estendidos e aplicados a todos os outros campos do saber
que queiram ser designados como Ciência. Na esteira desse movimento, estão
incluídas todas Ciências Humanas.
A amarração conceitual de todos estes eventos na área da
ciência será feita inicialmente com René Descartes e finalmente com Hobbes e
Kant.
A partir destes pensadores a visão do mundo que começará a
surgir será uma visão mecanicista, marcada pelos valores do útil, do eficaz, do
produtivo e do lucrativo. E o resultado da Revolução Científica é uma nova
idéia de razão, um novo conceito de natureza e um novo modelo de homem.
Há uma passagem de um horizonte marcado pelo teocentrismo para um horizonte antropocêntrico. Vai nascendo a racionalidade técnico-científica inspirada nas ciências empírico-formais e mais especificamente na física e na matemática. E a Natureza passa a ser compreendida no “seu oferecer-se ou estar aberta à poíesis fabricadora ou epistêmica do homem”[7]. Ou ainda: “a Natureza é pensada e representada como realidade exterior à medida que é submetida às normas de uma racionalidade específica, exprimindo-se em teorias, leis, modelos, conceitos, e que estende sua judicatura tanto à explicação (ciência) como à utilização (técnica) dessa realidade”[8]. A natureza é compreendida como um mecanismo.
Neste novo momento, o pensamento social, ético e político
encontra-se submetido aos “princípios epistemológicos e às regras da nova
ciência da natureza, ciência de tipo
hipotético-dedutivo e tendo a análise
matemática como instrumento conceptual privilegiado”[9]. E
com isto, a sociedade também começara a ser compreendida como um mecanismo.
Neste recém inaugurado lugar histórico, a nova racionalidade
política importa-se basicamente, em satisfazer as necessidades dos indivíduos
reunidos pelo pacto social e organizados em sociedade. Pode-se dizer que o
problema da satisfação das necessidades se torna o problema fundamental da
organização sócio-política[10].
Trata-se, pois, de “propor uma solução analítica satisfatória ao
problema da associação dos indivíduos, tendo como alvo assegurar a satisfação
de suas necessidades vitais”[11].
A Política, entendida agora como técnica que deve ser eficaz
na sua tarefa de organização dos indivíduos,
torna-se uma esfera autônoma que
independe de qualquer tipo de normatividade Ética. O seu escopo mais imediato é
a otimização do poder através da persuasão
ou do comando segundo critérios de força. A Política deixou de se
apresentar como uma hierarquia de fins para ser vista como jogo de forças.
Em resumo,
neste momento histórico, o homem inventa um novo tipo de conhecimento que pode
transformar a natureza das coisas, inclusive ele mesmo. E com estes novos
“óculos”, com esta nova maneira de conceber a realidade, ele se percebe capaz
de criar coisas novas, e de se recriar a si mesmo, a partir de um lugar
epistemológico no qual o homem torna-se o centro do Universo, e que neste instante está sendo compreendido como sendo
nada mais do que uma simples máquina. Ou como dizia Descartes, como um relógio.
O Universo é um mecanismo que funciona com
a precisão de um relógio. Esta nova forma de ver o Universo foi transferida
para a forma de se compreender a ética, a política, o homem, a natureza, e tudo
o mais. Em vista disto, o conhecimento
que antes era um saber sobre um povo, uma comunidade, seus costumes e
seus princípios, deixou de ter valor, pois o conhecimento importante e
necessário, agora, é o conhecimento das leis de causa e efeito entre as partes
que constituem o todo de qualquer destes mecanismos, sejam eles, a máquina da
sociedade, a máquina da natureza ou a
máquina chamada homem.
Na mesma época em que esta reviravolta epistemológica começa a ocorrer, o homem inventa a imprensa. E com isto a nova forma de fazer conhecimento, a ciência moderna, descobre para si uma nova forma de multiplicar seus registros escritos em grande escala. Com a imprensa, quase tudo que pudesse valorizar a oralidade teve sobre si seu golpe de misericórdia. A partir de então começará o império absoluto da cultura letrada.
Desta revolução no campo do saber dois resultados são bastante significativos para este trabalho: 1º. a partir de então o homem idoso começou a ser visto como uma máquina velha, muito utilizada e em péssimo estado de conservação. E como toda máquina pode ser substituída, não há por que não substituir também a forma de se registrar a memória de um povo. Disto decorre o 2º resultado indicado: agora já é possível prescindir de toda forma mneumônica de conservação de informações, pois além da difusão da escrita, agora se inventou a imprensa que multiplicará os textos escritos ao infinito.
Em função desta conjunção de fatores associados aos novos
padrões axiológicos, a saber, o útil, o lucrativo, o produtivo e o eficiente,
o homem velho, o ancião passa a ser visto como um homem decrépito, ineficiente,
lento, pouco produtivo e conseqüentemente, como um peso, pois não gera lucros e
só gera gastos. Na linguagem mais precisa deste novo horizonte que terá seus
valores radicalizados com a Revolução Industrial e com a hegemonia do sistema
financeiro, o homem velho tornou-se um imprestável. O conhecimento da tradição que o homem velho detém não serve
para mais nada, não é útil. E além disto a sua forma de armazenamento de
conhecimento também já não é suficiente e eficaz para registrar e manutenir os
resultados da ciência moderna.
Todavia, este problema agrava-se mais, afinal, esta mentalidade técnico-científica inseriu aquele homem moderno no mundo da tecnologia, da telecomunicação, da tele-informática e agora da biotecnologia (e em breve o homem estará vendo diante de si os primeiros resultados da bio-informática). E dentre todos os resultados oriundos do desenvolvimento técnico-científico, o mais significativo de todos eles é, indubitavelmente o aumento, ainda que gradual, da longevidade humana. A grande maioria da população do planeta, até mesmo a população mais empobrecida teve sua longevidade aumentada. Os conhecimentos da medicina moderna são, todos eles, resultados de avanços tecnológicos. Há países cuja expectativa média de vida, neste século, cresceu em 2 ou até mesmo 3 décadas.
O homem já
conseguiu triplicar o seu tempo médio de vida.
E tal
avanço torna-se paradoxal, pois, aumentou-se o tempo de vida, mas este “crédito
vital”, este “bônus” não é valorizado!!! Pois, apesar de ter conseguido
acrescentar anos à vida, o homem não conseguiu acrescentar Vida aos anos!!
E com o advento da Revolução Industrial e a emergência das categorias da utilidade, da produtividade, da lucratividade e da eficiência como critérios máximos da constelação simbólica do ocidente, o homem sábio e longevo tornou-se o homem decrépito, fraco e inútil. Aldous Huxley, em seu Admirável Mundo Novo, conseguiu imaginar uma situação que não suprimia a morte, mas contornava a velhice. As pessoas morriam sem ficar velhas. Ao encerrar seu tempo útil de vida, elas “desativavam-se” quase que automaticamente, sem precisar ultrapassar os transtornos da velhice, e portanto sem uma preparação para a morte. E ao se confrontar com o tema da morte o homem contemporâneo tem diante de si mais um problema.
A cultura
da sociedade de consumo é movida por um tipo de estímulo que valoriza o viril,
o jovem, o vigor físico e a beleza, a desenvoltura, a agilidade, a inteligência
rápida e a velocidade. Atletas rápidos, carros velozes, computadores céleres,
atendimento em caixas automáticos ou via internet. Nada de filas, demoras e
atrasos. O consumidor que compra via internet quer seu produto, em sua casa, em
24 horas. Em São Paulo, há lojas que entregam o produto em 4 horas. Qual é o
antípoda deste mundo célere? A morte! E quem está próximo da morte? O velho. E o homem idoso é lento, frágil e fisicamente mais
fraco.
Abaixo segue um pequeno texto do
grande intelectual italiano Norberto Bobbio. Ele nasceu em 1909 e escreveu o texto citado em 1989, quando
ainda era um octagenário. Hoje Bobbio é um nonagenário.
“Há formas de lentidão impostas pelas
circunstâncias: a hierática, do sacerdote na procissão; a majestática, do
grande estadista em uma cerimônia pública; a fúnebre, dos que carregam o
féretro e dos que o seguem. Toda solenidade requer tempos prolongados: o gesto
comedido, o passo cadenciado, um avançar grave, um discorrer nem impetuoso, nem
emocionado, interrompido por pausas calculadas, palavras ponderadas, em que uma
não atropele a outra. A lentidão do velho, ao contrário, é penosa para ele e
para os outros. Suscita mais pena que compaixão. O velho está naturalmente
destinado a ficar para trás, enquanto os outros avançam. Ele pára. Senta-se em
um banco. De vez em quando precisa descansar um pouco. Os que estavam atrás o
alcançam, o ultrapassam. Ele gostaria de apressar o passo, mas não pode. Quando
fala, procurando as palavras, talvez o escutem com respeito, mas também com
certo sinal de impaciência”[12].
Este homem está próximo da morte. Ele lembra a morte. E esta sociedade que vive da pulsão e da vitalidade repugna a morte, pois o arcabouço conceitual que lhe permitia tratar a inevitabilidade e a inexorabilidade da morte foi exorcizado da cultura do consumo. O sexo e a sensualidade tornaram-se estímulos para o consumo, afinal estão associados à vida, à pulsão, à juventude e à fertilidade. Por causa desta associação do erotismo e do sensualismo ao consumo o homem hodierno consegue falar naturalmente sobre sexo. E consegue fazê-lo sem constrangimentos, pois este tabu, já foi superado.
No entanto,
a morte, a negação da vida e da pulsão foi execrada da constelação simbólica
ocidental. Ela tornou-se obscena. Falar sobre a morte numa sala de aula é
constrangedor. É quase pornográfico. Veja-se portanto a dificuldade se fazer
propaganda de cemitérios, lápides, urnas mortuárias, coroas de flores...
E o velho é aquele ser que tem diante de si a morte.
A morte é obscena para o homem consumista. E tudo que a lembre, também torna-se
execrável, inclusive o homem velho.
Esta
inaptidão generalizada para com a morte gerou três tipos de fenômenos
distintos, mas relacionados entre si: 1. a banalização da morte; 2 a
espetacularização da morte;3. e a pornografia da morte.
Estes três
fenômenos têm como suporte a estrutura universalizada dos meios de comunicação
de massa. Através deles a população mundial, os cidadãos de todas as classes
assistem notícias, programas e filmes
nos quais ocorrem dezenas e centenas de morte. E esta veiculação em macro
escala des-sensiblizou o homem
para buscar uma compreensão do que seja a própria morte e seu significado para
ele. Em segundo lugar, os meios de comunicação sempre tem grande dificuldade
para tratar, com o devido respeito, a morte de grandes personalidades
conhecidas nacionalmente ou internacionalmente. Portanto, a saída mais fácil é
fazer desta ou daquela morte, muito específica, um espetáculo mediático. Finalmente, há uma produção
cinematográfica, em escala universal, que produz filmes de terror. E tais
filmes estão para a morte, assim como a pornografia está para o sexo. Sim, os filmes de terror são a pornografia da morte.
A inaptidão
para tratar e compreender a questão da morte estende-se portanto para o
tratamento e para a compreensão do homem que dela se aproxima. Portanto, o que
fazer com um velho que se aproxima da morte? O homem hodierno não tem uma
resposta para isto. Seu procedimento consiste simplesmente em distanciar de si
o velho e a morte.
De repente, então, foi um dia. Todos os dias são de repente.
A vida era o vento
querendo apagar uma lamparina[13].
O
itinerário deste texto foi percorrido sobre
três trilhos, ou três grandes temas: o
homem, o tempo e o conhecimento.
No primeiro capítulo, apresentou-se um homem que
conhecia a história, as tradições, a cultura e os valores de seu povo. E a
propriedade deste saber fornecia-lhe o maior prestígio que o homem de sua época
poderia alcançar. Na Idade Antiga e na Idade Média, o ancião era um sábio, possuidor de uma sabedoria que
tornara-se a própria bússola da sua comunidade.
No segundo capítulo, também organizado pelo
tripé homem-conhecimento-tempo, pôde-se perceber que as mudanças da época
desvalorizaram o saber do homem velho, que é um saber da memória, um saber do
passado, um saber tradicional, bem como, também desvalorizou o homem que
possuía tal conhecimento. E tal desvalorização resultara da idéia antropológica
de caráter mecanicista que via o homem velho como uma máquina deteriorada e
enferrujada; quase imprestável.
Portanto, a
transição do primeiro para o segundo capítulo deixa bem clara a característica
pendular desta passagem de uma época para outra.
A tarefa
deste último capítulo, que precede a
conclusão final, é desafiante. Afinal este capítulo terá a pretensão de
apresentar alguns aspectos da sociedade contemporânea que mostrem e fundamentem
ao mesmo tempo uma possibilidade de resgate
do valor do homem idoso no
interior de uma cultura diferente daquela primeira, apresentada no
capítulo inicial deste texto e diferente também da cultura da modernidade que
conseguiu deixar marcas indeléveis na cultura, na mentalidade e na
mundividência do homem contemporâneo.
Para
compreender a sociedade contemporânea,
no interior da qual se coloca a questão da valorização do homem idoso é
necessário que sejam apresentadas algumas das principais características da
sociedade atual.
Primeira característica: o conhecimento. A sociedade contemporânea além de ser uma sociedade do consumo ela também pode receber os predicados de civilização da informação (do conhecimento) e civilização da tecnologia. E o enlace mais significativo da cultura hodierna consiste no entrelaçamento entre tecnologia e conhecimento, mais especificamente entre informática e informação.
Segunda característica: o futuro.
As sociedades do mundo antigo e do mundo medieval eram profundamente marcadas
pela sua tradição e portanto, por um “tempo qualitativo” que se identificava
com o passado. O mundo contemporâneo é dirigido sobretudo pelo “tempo
quantitativo” do futuro.
Terceira característica: o utilitarismo. A sociedade consumista é regida pelos critérios do útil, do produtivo, do eficaz e do lucrativo. E não pelas categorias tradicionais oriundas da Ética clássica, tais como o Bem, a consciência moral, a obrigação, a virtude...
Quarta característica: a biotecnologia. O século que chega, segundo os estudiosos que se debruçam sobre o tema do impacto tecnológico sobre a vida humana, será o século da biotecnologia e da criação de formas inimagináveis de novos produtos que serão colocados no mercado de consumo[14].
Quinta característica:
simultaneidade de gerações. O aumento da longevidade produzirá um tipo de
agrupamento humano que poderá constituir-se pela concomitância de 4, 5 ou até
mesmo 6 gerações.
Tendo pois,
em mente, estas características, pode-se dizer que há algumas alternativas para
que se viabilize o convívio das gerações articulando estas mesmas
características supra indicadas. Mesmo porque o convívio entre gerações
será, a cada dia que passa, uma
exigência mais aguda e profunda, desta sociedade que tem colocado como uma de
suas metas tecnológicas, a criação de mecanismos e procedimentos que desacelerem, ou quem sabe, interrompa, o
processo de envelhecimento. Pois tais
procedimentos implicarão o aumento do número de gerações que estarão vivendo ao
mesmo tempo. E tal fato pode ser marcado por um agravante que deve ser
seriamente considerado: as mudanças tecnológicas acontecidas num espaço de dez
anos podem ser muito profundas. E tais mudanças são responsáveis pela
transformação das mentalidades e das mundividências que estão sendo gestadas
diuturnamente. Em vista disto uma geração pode chegar ao seu termo sem
reconhecer nele o seu próprio ponto de partida. O homem poderá ser um estranho
ao mundo em que veio à luz e sobre o
qual viveu tanto tempo. Este fato gera no homem hodierno uma certa
perplexidade, pois caso ele não compreenda os passos históricos que marcaram e
engendraram o momento histórico de chegada, o sujeito se perceberá num mundo
sem continuidade com aquele universo no qual ele foi gerado. Tal desconexão
poderá fazer dele um estrangeiro em seu próprio mundo. Portanto uma das alternativas
para o homem idoso manter-se ligado, conectado, ou como se diria em italiano aggiornado, esta profundamente
relacionada com a questão do conhecimento.
Mas este conhecimento não deve ser mais aquele saber do homem sábio. Mas um conhecimento do futuro.
“Na estrutura do tempo histórico do ethos o passado se faz presente pela tradição e o presente retorna ao passado pelo reconhecimento de uma exemplaridade. Passado e presente são componentes estruturais de um tempo qualitativo que se articulam dialeticamente para construir o tempo histórico.
“Na moderna sociedade ocidental a
primazia do tempo quantitativo transfere do passado para o futuro a instância
normativa do tempo ou o seu centro de gravidade. É o tempo por vir que adquire
os predicados axiológicos que asseguravam a exemplaridade do passado. Temos a
desarticulação do processo dialético que aqui chamamos tradição e a suprassunção da oposição linear presente e
passado.
“A primazia do futuro na
concepção do tempo é homóloga à primazia do fazer técnico na concepção da ação
da qual procede o pressuposto
utilitarista subjacente ao desenvolvimento da ética moderna”[15].
A expectativa
média de vida de um homem do período antigo ou medieval era algo em torno de 28
e 32 anos. Veja-se o caso de Alexandre, o Magno, que conquistou um vasto
domínio de terras e reinos e morreu apenas com 32 anos.
Nos dias de
hoje, há jovens com esta idade que ainda não saíram de casa, pois ainda estão
estudando. Fizeram sua graduação e continuam especializando-se em uma
determinada área procurando os cursos de Mestrado e Doutorado. Estes jovens
terminam a graduação com 22 ou 23 anos e depois se dedicam a mais 7 ou 8 anos
nos cursos de Mestrado e Doutorado. Como a longevidade humana aumentou, é
possível e inteligível que o homem gaste
um tempo em formação, que, em outras idades históricas, corresponderia à
média de toda uma vida humana. Este
tempo tão grande de dedicação à formação tem se colocado como uma exigência do
mercado de trabalho que não tem absorvido uma grande parcela da população
brasileira que se encontra absolutamente desqualificada. Em vista disto, os
postos cuja exigência de qualificação é elevada estão desocupados. Esta geração
de homens e mulheres tem sido classificada pelos estudiosos do desenvolvimento
humano como geração canguru.
Pois, as pessoas desta geração têm demorado muito para sair de casa e inaugurar
sua vida de autonomia e independência.
Isto indica que, o homem que tenha se tornado um “aprendente”[16], que esteja sempre atualizado e por dentro das novidades de sua área, nunca será preterido. Pois, esta capacidade de aprender diuturnamente e de estar adquirindo um conhecimento que vem sendo produzido freneticamente pelos meios tecnológicos que a humanidade dispõe, é a capacidade sine qua non daqueles homens que estão trabalhando em qualquer uma das áreas do saber e do produzir humanos.
Segundo a
grande maioria dos dados e das expectativas dos analistas que se debruçam sobre
os grandes temas da agenda internacional, o processo de envelhecimento da
população mundial e mesmo da população brasileira se constitui como um processo
irreversível e inexorável.
Todavia,
sabe-se que a cada dia que passa, o homem cria, inventa e descobre mecanismos
que podem dar mais qualidade ao processo de envelhecimento humano. Muito
provavelmente, daqui a 50 anos, a situação de um octagenário será semelhante à
situação de um sexagenário dos dias de hoje. Assim como há 1000 anos atrás, um
homem com 30 anos já poderia estar assemelhando-se a um homem de 50 ou 60 anos
do século 20.
Ou seja, o
homem tem encontrado formas de retardar o
processo de envelhecimento através de programas de longevidade
cerebral, de incremento e estímulo das atividades intelectuais, de estímulo ao
exercício físico diário, de dietas equilibradas, balanceadas e muito bem
elaboradas. E finalmente encontrará formas de desacelerar o processo de
envelhecimento através das futuras conquistas
que serão fruto de todo este trabalho ingente de decodificação do genoma
humano.
Recolhendo
pois todas estas informações, o ser humano
deve aprender que ele nunca poderá deixar de aprender. Seu aprendizado deverá
ser constante e ininterrupto. Qualquer intermitência neste processo de
aprendizagem poderá fazer com que ele seja “atropelado” pela velocidade das
inovações.
E esta
exigência de constante formação se coloca também como uma realidade
absolutamente imprescindível, pois dentro em pouco, as novas gerações estarão
sendo planejadas, ou melhor, projetadas geneticamente. E em vista disto, a
concorrência entre as novas gerações e as gerações anteriores será uma
concorrência desleal.
Todavia, os
avanços das ciências que estudam o
cérebro (neurologia, neurofisiologia, as filosofias da mente, as ciências da
inteligência), as pesquisas na área da Inteligência Artificial, a decodificação
dos genes responsáveis pelas informações referentes à compleição cerebral e o
crescimento da geriatria e da biogerontologia, certamente aumentaram e
aumentarão as capacidades cognitivas do ser humano. Em vista disto a
possibilidade de aprender e adquirir conhecimento deverá ser uma prerrogativa
absolutamente necessária de uma sociedade que queira dar VIDA aos anos
acrescidos à longevidade humana.
Há um
consenso absoluto na área das ciências da administração, e dos profissionais
que atuam na área de recolocação e reposicionamento de executivos em novos
cargos, a respeito da importância do conhecimento
e da formação intelectual para se encontrar um novo posto de
trabalho.
Pois, de
fato, a situação mundial de
envelhecimento das populações é algo notório e indiscutível.
Segundo, A.
GOLINI, no seu texto Aspetti demografici, apresentado na 3ª Conferenza Internazionale ‘Longevità e
qualità della vita’ em 1988, “enquanto o
século XX foi o século do crescimento demográfico, o século XXI será o do envelhecimento
das populações”. E se se quiser continuar neste tipo de cotejo entre
o século que finda e o próximo que vem, também se poderá dizer que o século XX
foi a era da tecnologia e os próximos anos farão parte da era do conhecimento, mas de um tipo de
conhecimento multidisciplinar, que não se contente com a pouca
profundidade do saber muito pouco de muita coisa, mas, sem
deixar a interdisciplinaridade, buscar ao mesmo tempo, conhecimentos
especializados e profundos sobre temas de interesse e importância gerais. Para
concluir este capítulo segue-se uma citação do professor Elio SGRECCIA que
elaborou um trabalho magistral sobre Bioética e
que soube com refinada acuidade intelectual, perceber a agudeza das
questões relativas ao acréscimo surpreendente da população envelhecida: três
fatores se uniram sinergeticamente em sentido negativo, a saber, 1.a diminuição da natalidade, 2. o prolongamento da vida média do ser humano
e, para alguns períodos e algumas áreas, 3. a emigração,
que juntos geraram uma conjuntura
verdadeiramente desfavorável.
Verificou-se o
fato de que em cerca de um século
triplicou-se a duração média da vida, e se reduziu mais de um terço a fecundidade. A conseqüência é que o peso proporcional do grupo dos
idosos no conjunto demográfico fica perturbado devido a fatos certamente
positivos, como o prolongamento da vida média pelos resultados favoráveis
alcançados pela medicina em relação às doenças infecciosas e parasitárias, à
mortalidade infantil e materna e graças igualmente a uma melhor nutrição, mas
devido também a um fator de caráter negativo (ao menos em sentido matemático),
ou seja, o da diminuição dos nascimentos. Se na primeira metade deste século a
distribuição demográfica por idade podia ser representada por uma pirâmide de
base ampla (população jovem) que se estreitava progressivamente à medida que a
idade se elevava, agora a representação vai se transformando em uma imagem cilíndrica, por um duplo fator:
a queda da população jovem – o fator mais grave – configura um ‘envelhecimento
na base’; o aumento da população que entra na idade provecta e chega à velhice
configura um ‘envelhecimento no vértice’”[17].
Todavia, a
complexidade da situação da humanidade sobre o planeta não conseguirá jamais
ser compreendida a partir dos paradigmas
epistemológicos hegemônicos e de caráter analíticos ou mais
precisamente hipotético-dedutivos.
A racionalidade geométrica e positivista imperante desde o século passado não
dá conta dos problemas hodiernos do planeta[18].
E o novo
instrumental intelectual e conceitual emergente, e que aponta pistas fecundas
para a compreensão dos problemas planetários ora em questão, e presentes na
agenda internacional das grandes organizações mundiais, é o paradigma hermenêutico que exige do homem
uma capacidade de abordagem de caráter interpretativo e portanto, uma bagagem
cultural ao mesmo tempo, ampla e profunda. E tal perspectiva indica a
necessidade de se utilizar uma das maiores riquezas do homem antigo: a Memória.
É óbvio que
aqui não será o momento de aprofundar os aspectos mais específicos da filosofia
hermenêutica seja ela de Paul Ricoeur ou de H.G. Gadamer. Todavia, o autor
deste texto quer salientar que UM dos elementos mais fundamentais para se viver
o desafio do convívio de gerações é perceber a necessidade inadiável de se
estar em pleno e contínuo estado de aquisição, não de informações, mas de
conhecimento. E de elaborar um tipo de armazenamento cognitivo que não seja o
da lembrança, mas o da memória.
'' eu nunca soube que o mundo
era belo até alcançar a velhice''[19].
Travessia[20].
O problema
do envelhecimento vem sendo tratado pelo homem desde muito tempo. Ele é um tema
recorrente na mitologia, nas religiões e até mesmo neste mundo moderno e secularizado
inaugurado por René Descartes e Francis Bacon que também trataram da questão do
envelhecimento humano. Willian Harvey, o descobridor do mecanismo da circulação
sangüínea também não deixou de tratar do assunto[21].
Portanto, a reflexão sobre o inexorável itinerário que conduz o homem à decrepitude não é algo
original da reflexão dos gerontologistas, dos biogerontologistas, dos
geriatras... Não. A reflexão e o
interesse pelo tema são muito antigos. E os resultados destas reflexões não são
menos interessantes. Vejam-se, por exemplo, as fórmulas atuais que relacionam
elementos do indivíduo para indicar algumas informações a respeito da sua
longevidade. O caso mais interessante é a relação entre o peso do cérebro com o
peso do corpo, que origina uma equação que indica que as espécies com uma
proporção maior entre peso do cérebro e peso corporal são as que apresentam
maior longevidade[22].
Todavia esta relação supra indicada necessita de uma outra relação entre duas
outras variáveis: a temperatura corporal e taxa metabólica. Além destes dados
de caráter mais teórico-científico[23],
é muito fácil detectar na sociedade contemporânea o interesse generalizado
pelos chamados superlongevos. O que também indica uma certa contradição, pois
há esta curiosidade e interesse pelos que vivem muito, desde que não estejam ao
lado de ninguém atrapalhando ou obstaculizando os passos de quem tem mais
velocidade.
Portanto,
em vista de tudo o que já foi dito o autor acredita na revalorização do homem
longevo a partir de uma perspectiva muito precisa e que de alguma forma já vem
sendo realizada por algumas instituições:
o homem contemporâneo, precisa adquirir um tipo de conhecimento que
tendo suas raízes no passado lhe dê um tipo de suporte contínuo para estar
adquirindo novos conhecimentos que sempre são valorizados na perspectiva, não
mais do passado, mas do futuro.
O
mercado de trabalho tem uma demanda gigantesca por mão-de-obra qualificada. E
esta demanda não está sendo suprida. E tal demanda vem provocando o esticamento do tempo de estudo mínimo para
se formar um profissional com o perfil exigido pelas empresas. Em função disto
há empresas que têm aberto suas próprias universidades para preparar seus
próprios funcionários. E apesar de existirem no Brasil instituições que não reciclam
homens com mais de 35 anos, têm-se assistido a uma profusão bastante grande das
chamadas Universidades da Terceira Idade. Todavia, algumas destas atividades
“universitárias” tem um caráter meio terapêutico ou ainda lúdico-ocupacional,
quando na verdade o que se deveria estar fazendo era capacitando tais pessoas
para se sentirem valorizadas não apenas pelo novo círculo de velhinhos que vão
sentir-se ocupados por estarem preparando um baile mensal em favor de alguma
instituição filantrópica. Qualquer
atividade semelhante a esta caricatura não passará de um paliativo, ou ainda de
atividade filantrópica. O que não é
ruim, e que também pode ser feito.
Todavia,
o que o autor buscou indicar neste seu trabalho é que o homem provecto pode
possuir um conhecimento sólido que não seja simplesmente uma lembrança do
passado, mas que poderá ser, com sua experiência, o ponto de partida para novas
posições e novos postos a serem alcançados por um tipo de homem que faz da sua
aventura de estar vivo uma nova reinvenção cognitiva e intelectual a cada dia vivido[24].
Nesta
sociedade do conhecimento, o reconhecimento intersubjetivo será UM privilégio
de quem detiver este valor. E com isto não se estará apenas aumentando o grau
de competitividade pelo mercado de trabalho, mas o ser humano provecto estará
resgatando sua dignidade PESSOAL e
superando o preconceito mecanicista de matriz cartesiana de que o homem velho é
uma máquina com desempenho deficitário.
E com isto o senescente poderá ser reposicionado e recolocado ao lado
daquelas gerações que foram por ele gestadas reestabelecendo com isto um tipo de convívio respeitoso de iguais e não
puramente filantrópico-assistencial. Pois com toda certeza do mundo, este
planeta não precisa de mais gente inteligente, mas de homens Lúcidos e Sábios.
Portanto,
este texto encerra-se referindo-se, por incrível que pareça ao seu momento de
partida e citando Sólon, o grande legislador e educador da cidade de Atenas:
Geravskw d j aijei; polla; didaskvmeno"
Envelheço aprendendo sempre muitas
coisas - Sólon
Este
verso de Sólon tornou-se um dos fragmentos mais famosos da Antiga Grécia.
Platão mencionou-o em dois de seus diálogos: no Laques (188b, 189a )
e no Amatores (133c), para indicar que na
vida sempre há o que aprender e que os
velhos não devem acreditar que já aprenderam tudo. E foi a partir
deste texto que Valério Máximo trouxe para a tradição ocidental a anedota
segundo a qual, o próprio Sólon, moribundo e em seu leito de morte, teria
erguido a cabeça do travesseiro para aprender alguma coisa dos discursos que
estavam sendo feitos pelos amigos que o
rodeavam em torno de seu leito. E tal noção chega aos dias de hoje, não de
forma ex abrupta, mas suportada pela própria história da reflexão em
torno da relação homem-conhecimento-tempo. Veja-se que Sêneca formulou a máxima
Tamdiu discendum est... quamdiu vivas, “deve-se aprender por tanto tempo
quanto se viva” e que foi transcrita num
Dístico de Catão nos seguintes
termos: Discere ne cessa, cura sapientia crescat: / rara datur longo prudentia
temporis usu - “nunca deixes de
aprender: cuida de aumentar os teus conhecimentos, pois raramente a sabedoria é
dada pela velhice”. Esta idéia da aprendizagem e da aquisição do conhecimento
pelo homem em todo e qualquer tempo de sua vida é, portanto, uma noção que tem
uma história robustecida pelas autoridades que foram Platão, Aristóteles,
Agostinho[25],
Sêneca e Cícero no seu famoso De
Senectute. O que permite ao autor deste texto corroborar, ratificar e
revivescer sua tese, que em verdade não é exatamente sua, mas de uma história humana, elaborada num tempo
humano, que resgata e revaloriza o homem que se encontra num momento
privilegiado de sua vida, o momento de sua Senectude, próximo de seu
fim, quando a partir deste horizonte inexorável da cessação do existir humano
se coloca para o homem como o maior desafio a ser enfrentado pelos arautos do
conhecimento: a vitória sobre a morte.
E esta vitória sobre a morte, sempre será apontada e indicada pelo
ser humano como uma perspectiva histórica através da qual o conhecimento
de um homem histórico aponta para o transbordamento dos limites
temporo-espaciais da vida dele mesmo, de
um indivíduo, de uma sociedade e
de uma cultura, para tornar-se
objeto de interesse de outras gerações que perpetuarão o desafio ingente de
lidar com a tensão entre novo e velho, descobertas e tradições, passado e
futuro, vida e morte, juventude e Senectude. Pois tal como disse Aurélio
Agostinho Ad discendum quod opus est nulla mihi aetas sera videri potest.
Bibliografia
ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, Brasília, Ed. UnB, 1992.
BOBIO, N. O tempo da memória – De
senectude e outros escritos, RJ, Ed. Campus, 1997, p. 47
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universitaires de France - PUF, 1992.
HAYFLICK, L. Como e porque
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JAEGER, H. Les fondements du droit, in Encyclopédie
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universitaires de France - PUF, 1992
JAEGER, W. Paidéia
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_____,
Democracia e Dignidade Humana - Síntese
Nova Fase, n.44, BH, Loyola, 1988,
pp.11-25.
_____,
Ética e Civilização - Síntese
Nova Fase, n.49, BH, Loyola, 1990,
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MAGNOLI, D., Questões contemporâneas Internacionais, FUNAG/ IRB, Brasília, 1995.
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SGRECCIA, E. Manual de Bioética – Vol. II - Aspectos
Médico-Sociais, SP, Loyola. Ver o capítulo Bioética, ancianidade e
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TOSI, R., Dicionário de Sentenças
Latinas e Gregas, SP, Martins Fontes.
VVAA. OLIVEIRA,
C. A. (Org) O mundo do trabalho, Crise e mudança no final do século (Ministério
do trabalho, CESIT – UNICAMP – Scritta) SP, 1994
E
morreu no fim da vida.
[1].O que o
velho diz todos consideram sensato – Esta máxima é de Publílio Siro que tem
paralelos gregos num fragmento de Eurípides (gnw'mai d j
ajmeivnou" eijsiv twn geraitevrwn – “melhores são os conselhos dos velhos” 291,2N.2) e nos Monósticos
de Menandro: ver em especial o 164 (gnwvmh gerwvnton
ajsfalevstera nevwn - “a opinião
dos velhos é mais segura do que a opinião dos jovens”) e o 524 (vnevo" w]n ajkouvein
tw'n geraitevrwn qevle - “ tu, que és jovem, escuta os
mais velhos”). Este topos já está documentado na Ilíada (2,53) e também
se encontra no Antigo Testamento (Jó, 12,12). Há outros fragmentos da tradição ocidental que
corroboram a idéia tradicional do “envelhecendo se aprende”. Há também o vulgar
Aetate preudentiores sumus, “com a idade ficamos mais prudentes”, e o
medieval Senectus primun et ante
iuvenes consulenda, “os velhos devem ser consultados primeiro e antes dos
jovens”. Entre os provérbios modernos, vêem-se, por exemplo, o italiano Consiglio di vecchio non rompe mai la testa;
o francês, En conseil écoute l’homme
agé, que tem equivalentes exatos em espanhol, alemão e inglês; o espanhol
diz-se também Del rico es dar
remedio, y del viejo consejo; e o
bolonhês Al dièvel l’é furb parché
l’é véc, que no Brasil se diz O diabo sabe muito porque é velho E a
referência literária mais famosa está nas palavras de Mefistófeles no Fausto
de Goethe: (2,2,1: Seit manchen Monden, einigen Sonnen / erfahrungsfülle
habt ihr wohl gewonnen). A partir desta mesma noção ainda pode-se encontrar
em Aristóteles a associação da força ao jovem e da sabedoria ao velho. Na Política do Estagirita encontra-se o seguinte
fragmento: pevfuken
hJ me;n duvnami ejn newtvroi", hJ
de;
frwnevsi" ejn
presbutevroi" ei>'nai “é natural que a força esteja nos jovens e a sabedoria nos velhos”.
[2] . Gênesis, capítulo 22, versículo 17; in Bíblia de Jerusalém, São
Paulo, Ed. Paulus, 1995, p. 60.
[3]. Homero, Ilíada, Canto
XVIII, 500-510. São Paulo, Ed. Melhoramentos, trad. de Carlos Alberto Nunes.
[4] . A palavra tradição tem sua origem etmológica na língua latina. O
verbo TRADERE significa TRAZER. Portanto TRADITIO é o conjunto de coisas que
foi TRAZIDO. A TRADIÇÃO portanto, é o
conjunto de informações, costumes, sabedorias, normas de conduta que foi
trazido do passado para o presente através da transmissão oral deste saber
detido e conhecido pelos sábios e pelos anciãos das comunidades antigas.
[5] . Vale notar que a palavra PROVECTO possui dois significados: um
primeiro significado que indica justamente a posse e a detenção de
conhecimentos. Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, PROVECTO
é um adjetivo que designa aquilo ou aquele que tem progredido ou tem avançado
nos estudos. Mas, além disto, esta palavra é um adjetivo que indica o homem
avançado em idade. Tal sinonímia decorre sobretudo da homologia existente entre
a sabedoria e a idade. Só poderia ser sábio o homem idoso. Daí a coincidência
de significados. Portanto, a expressão acima “O Provecto, cheio de
conhecimento” na verdade, se apresenta como um pleonasmo, ou como uma expressão
redundante, que foi deliberadamente inserida neste texto para dar ocasião para
a apresentação desta sinonímia.
[6] . COPÉRNICO, Nicolau, As Revoluções dos Orbes Celestes, 2ª
Edição Lisboa, F. Calouste Gulbenkian, 1996, p.37-43 (capítulos VII e VIII).
[7] . AF II p.25.
[8] . AF II p.25.
[9] . EF II p.163.
[10] . EF II p.162.
[11] . EF II p.163.
[12] .BOBIO, N. O tempo da memória
– De senectude e outros escritos, RJ, Ed. Campus, 1997, p. 47
[14] . Veja-se, por exemplo, a tentativa de “costurar”genes de
aracnídeos em cabras, com o objetivo de que os caprinos produzam no seu leite
as mesmas proteínas responsáveis pela produção da teia de aranha. Com isto, o
homem poderá retirar do leite tais proteínas e a partir delas sintetizar a teia
de aranha para fazer materiais de
altíssima resistência com pouquíssimo peso.
[15] . Lima Vaz, H. C. de, Escritos de Filosofia II, Ética e Cultura,
SP, Loyola, 1986.
[16] . Este termo “aprendente” nasceu no interior das novas tendências
pedagógicas que buscam formar nas pessoas
a capacidade de aprender continuamente.
[17] . SGRECCIA, E. Manual de
Bioética – Vol. II - Aspectos Médico-Sociais, SP, Loyola. Ver o capítulo Bioética,
ancianidade e envelhecimento das populações.
[18] . E segundo os analistas internacionais alguns
dos maiores desafios da humanidade são os seguintes: 1. A superpopulação e o
seu envelhecimento – problema demográfico; 2. O esgotamento dos recursos, a
deterioração do meio ambiente; a deterioração da água; a camada de ozônio; a
qualidade do ar; 3. A pobreza; 4. A
distribuição da renda; 5. O fim da civilização do trabalho e a inauguração da
era do desemprego; 6. A tecnologia (que aumenta a expectativa média de vida,
cria desempregos, o envelhecimento da população não produtiva); 7. A violência;
8. O narcotráfico e as várias formas da
criminalidade organizada); 9. A globalização; 10. A crise ética e a ausência de um direito internacional; 11. O
diminuto senso crítico e a idiotia juvenil como sociopatias universais; 12.
Liberdade do fluxo de capitais; 13. A mudança civilizatória provocada pela
Internet e 14. pelos avanços da biotecnologia; 15. A hegemonia do mercado.
[20] . João Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas
[21] . Alguns fatos da história da medicina dos séculos XVII e XVIII são únicos. E um dos
mais interessantes para este tema diz respeito às tentativas de
rejuvenescimento através das transfusões de sangue. . Muitos médicos retiravam
o sangue de um animal novo para tentar rejuvenescer um animal velho.
[22]. HAYFLICK, L. Como e porque envelhecemos, RJ, Ed. Campus,
1997, p. 198.
[23]. A expressão TEÓRICO-CIENTÍFICO pode parecer um pleonasmo, todavia,
o autor quis indicar sua clareza a respeito do caráter teórico e/ou mesmo
hipotético que orienta toda a epistemologia das ciências naturais, o que não
implica a veracidade da equação que identifica a teoria científica com a
verdade. Mas que faz da teoria uma explicação possível para um determinado
fenômeno estudado.
[24] . Um exemplo muito claro e que tavez esteja bastante próximo da
realidade dos executivos e diretores de um Banco é a passagem que se está
assistindo do ERP para o CRM. É impossível implantar o Customer Relationship
Management sem a consecução do momento anterior. Portanto, não adiantará
muito a presença de alguém que conheça muito de CRM sem conhecer o ERP. Sendo
que após o período de implantação do CRM, muito provavelmente em pouco mais de
meia década, as grandes estruturas organizacionais já estarão com outro
paradigma de engenharia organizacional. E para se fazer estas passagens são exigidas pessoas
experientes, cuja idade já ultrapassa a casa dos 40 e dos 50 anos e cujo
conhecimento é muito profundo e solidificado. As grandes empresas não estão no
mercado para reinventar-se diuturnamente. Todavia o ser humano tem se
reinventado em espaços muito curtos de tempo, mas as exigências de reinvenção
de si mesmo, às vezes são dolorosas, apesar de necssárias.
[25]. Ver TOSI, R., Dicionário de Sentenças Latinas e Gregas, SP,
Martins Fontes, nº 385. Agostinho escreve uma carta a Jerônimo, na qual afirma,
em primeira pessoa, que “para aprender o
que é preciso nenhuma idade me parece tardia”- Ad discendum quod opus est
nulla mihi aetas sera videri potest.
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